Folha de S.Paulo

ANÁLISE Orçamento demonstra desprezo de presidente pela pasta

- PATRÍCIA CAMPOS MELLO

O Orçamento proposto por Donald Trump traduz em números o desprezo que o líder americano pela diplomacia.

O corte de 29% nos recursos do Departamen­to de Estado, responsáve­l pela condução da política externa, e da Usaid, agência para desenvolvi­mento internacio­nal, expõem o pouco apreço do republican­o pelos órgãos.

Levando em consideraç­ão a elevação de recursos para a defesa e para as Forças Arma- das, fica claro que Trump vê a força militar, e não a diplomacia, como a forma mais eficiente de defender os interesses americanos no mundo.

Em carta ao Congresso, 151 generais da reserva criticaram os cortes propostos, afirmando que “fortalecer a diplomacia e o desenvolvi­mento, além de enfatizar a defesa, são essenciais para manter a América segura”.

“As crises de hoje não têm soluções que sejam apenas militares, mas as agências civis americanas de segurança nacional, como o Departa- mento de Estado e agências de desenvolvi­mento, sofreram grande corte no ano passado. Muitos cargos altos continuam vagos, minando a influência global dos EUA”, diz o texto dos militares.

Há muito tempo o departamen­to de Estado americano não se tornava tão irrelevant­e na formulação e condução da política externa do país.

Não é que Trump se desinteres­se completame­nte pela atuação internacio­nal do país.Maseleacha­queadiplom­acia deve ser essencialm­ente presidenci­al (e tuiteira) e concentra iniciativa­s no Conselho de Segurança Nacional e no genro, Jared Kushner.

O secretário de Estado, Rex Tillerson, é seguidamen­te desautoriz­ado pelo presidente. Sob constantes rumores de queda iminente, é o primeiro a abraçar os cortes no departamen­to que comanda, e contratou uma consultori­a externa para eliminar postos.

Em comunicado, Tillerson afirmou que a proposta “prioriza o uso eficiente do dinheiro do contribuin­te”: “Este orçamento se concentra em segurança nacional aqui e no exterior e desenvolvi­mento econômico”, diz o texto.

A rotativida­de no departamen­to, como no resto do governo Trump, é alta.

O último a debandar foi Thomas Shannon, 60, que ocupava o terceiro mais alto cargo do Departamen­to de Estado e era um dos mais respeitado­s diplomatas em Washington. Shannon, que foi embaixador no Brasil de 2009 a 2013, anunciou a aposentado­ria no início do mês.

E muitas embaixadas dos EUA continuam acéfalas após mais de um ano de mandato.

A proposta de Trump pede corte de US$ 1,6 bilhão em um programa de alimentos para algumas das pessoas mais pobres do planeta, elimina o programa Iniciativa Global de Mudança Climática e reduz programas de intercâmbi­o, um dos principais instrument­os do “soft power” do país. A boa notícia é que precisa de aval do Congresso —e deve ser barrada como em 2017.

“Uma coalizão bipartidár­ia já impediu cortes no Departamen­to de Estado e na Usaid que teriam minado a segurança nacional”, disse o líder da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Ed Royce, republican­o. “Neste ano, agiremos de novo.”

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