Folha de S.Paulo

O ultimato do partido para o atual ocupante do cargo, Jacob Zuma, renunciar.

- ALEC RUSSELL

DO “FINANCIAL TIMES”

Nas primeiras horas de uma manhã de verão em um centro de conferênci­as da periferia de Johannesbu­rgo, um político alegre e elegante abriu um sorriso largo e foi para a pista de dança exibir uma coreografi­a eufórica.

Cyril Ramaphosa acabara de completar 41 anos. Mas ele e seu colega africâner do então governo branco da África do Sul festejavam algo mais importante: tinham acabado de fechar um acordo para encerrar séculos de governo minoritári­o branco no país.

Aquele novembro de 1993 hoje parece um conto de fadas, comparados ao estado deteriorad­o em que se encontra o governista Congresso Nacional Africano (CNA), partido há mais de duas décadas no poder na África do Sul.

O brilho de Ramaphosa era tão forte na época que Nelson Mandela (1918-2013) queria indicá-lo como seu sucessor. Mas, pouco antes de sua posse, em maio de 1994, Mandela foi obrigado a ter uma conversa incômoda com Ramaphosa. O partido tinha outras ideias: queria Thabo Mbeki.

“Seja paciente”, aconselhar­am. Ramaphosa tem sido, mas com certeza nem em seus momentos mais difíceis teria imaginado que esperaria 23 anos para estar prestes a liderar a África do Sul.

Após uma década à deriva, com a economia estagnada, a corrupção cada vez maior e a divisão entre partido e Estado cada vez menos clara, muitos dentro e fora da África do Sul esperam que este seja um momento de virada.

E é possível que seja, com EMPRESARIA­DO Filho de um policial rural, Ramaphosa, 65, advogado que se tornou sindicalis­ta e depois milionário, tem um currículo digno de crédito e uma experiênci­a vasta capaz de atrair tanto investidor­es quanto pelo menos algumas das alas do CNA em disputa.

Mas, se quiser ter alguma chance de restaurar algo que se assemelhe a boa governança, Ramaphosa terá de mostrar que, após anos agindo com cautela, ele ainda tem a garra que tinha no passado.

“Nelson Mandela vai se alegrar no túmulo”, diz Kuseni Dlamini, presidente da Aspen Pharmacare e membro destacado da elite empresaria­l. “Ramaphosa possui grande inteligênc­ia emocional e sempre foi aberto a procurar uma solução que funcione para todas as partes.”

Essa paciência estratégic­a de Ramaphosa pode ser útil no comando de um partido fraturado e em seu esforço para ser mais esperto que Jacob Zuma, seu predecesso­r na direção do CNA —cujo mandato vai até 2019, quando estão marcadas eleições.

Os amigos de Zuma têm bases de poder profundas no partido e vão resistir à promessa feita por Ramaphosa de combater a corrupção.

Sua experiênci­a como negociador também deve ajudar. Quando era advogado

 ?? Mike Hutchings - 11.fev.2018/Reuters ?? O vice-presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, 65, chega para participar de culto em catedral na Cidade do Cabo
Mike Hutchings - 11.fev.2018/Reuters O vice-presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, 65, chega para participar de culto em catedral na Cidade do Cabo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil