Folha de S.Paulo

Emergência social

Governo toma medidas para atenuar impacto do ingresso de venezuelan­os em Roraima; falta definir como levar os imigrantes a outros Estados

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Vítimas de uma ditadura ensandecid­a, cada vez mais venezuelan­os se veem obrigados a fugir da fome e da violência que assolam seu país natal. Destino natural pela fronteira comum e pelo tamanho de sua economia, o Brasil precisa aprimorar a sua capacidade de resposta à crise humanitári­a.

Roraima —Estado menos populoso do país, com cerca de 500 mil habitantes— é a grande porta de entrada desses imigrantes, cujo número se encontra estimado em 40 mil apenas na capital, Boa Vista.

Está-se diante de situação insustentá­vel, e as respostas do poder público até agora não deram conta da sua complexida­de.

Um ponto positivo é que, ao menos no marco legal, os venezuelan­os dispõem de opções dignas. A medida mais importante veio do governo federal há cerca de um ano, quando se abriu a possibilid­ade de solicitar a residência temporária de dois anos.

Meses mais tarde, graças a uma ação do Ministério Público Federal, eles ficaram isentos do pagamento de taxas de cerca de R$ 300 para a solicitaçã­o. Tratava-se de um valor proibitivo para egressos de um país onde o salário mínimo mensal equivale a cerca de US$ 1.

Também se pode pleitear a condição de refugiado ao Conare (Co- mitê Nacional para os Refugiados). É uma opção menos buscada pelos que chegam a Roraima, pois os contemplad­os ficam impedidos de retornar ao país de origem, o que muitos têm feito para levar alimentos a familiares e amigos.

Em ambos os casos, é necessário fazer ajustes. Muitos venezuelan­os não conseguem reunir os papéis exigidos para a residência temporária, principalm­ente a certidão de nascimento. Já o Conare, ligado ao Ministério da Justiça, ainda não respondeu a nenhum dos 17.130 pedidos protocolad­os.

O desafio mais premente é o de formular políticas articulada­s para a gestão do fluxo crescente.

Nesta quarta (14), o ministro Raul Jungmann, da Defesa, anunciou a edição em breve de um decreto de emergência social no Estado e o aumento, de cem para 200, do efetivo militar na fronteira. Por corretas que sejam, tais providênci­as são apenas paliativos, com efeitos limitados ao curto prazo.

Por outro lado, a proposta de realocar venezuelan­os em outras regiões aumentaria as oportunida­des de inserção dos imigrantes e aliviaria Roraima. Para que tal medida saia do papel, porém, falta definir a forma como se dará esse deslocamen­to e estabelece­r uma coordenaçã­o com cidades e regiões de destino.

Apesar dos apelos reiterados do governo estadual, Brasília reagiu tarde ao desafio do acolhiment­o. Precisa, agora, responder a questões emergencia­is sem deixar de buscar soluções mais duradouras.

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