Folha de S.Paulo

Tudo normal no Carnaval

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RIO DE JANEIRO - Muito antes da chegada do Carnaval carioca deste ano, dois aspectos vinham sendo previstos e amplamente noticiados: os enredos de protesto dariam o tom na Sapucaí e a inseguranç­a, nas ruas. O balanço da Quarta de Cinzas confirmou as expectativ­as.

A vitória da Beija-Flor e o segundo lugar da Paraíso do Tuiuti eternizam na história dois desfiles que, assim como o da Mangueira (quinta colocada), repercutir­am por estarem afinados com o desgosto da população do Rio e do restante do Brasil.

É verdade que, para cada comentário nas redes sociais em apoio às alegorias contra corrupção, escravidão, Temer, Crivella etc., havia um outro lembrando que a Beija-Flor tem como patrono um bicheiro condenado, que a diretoria da Tuiuti incentivou que um carro alegórico seguisse em frente após atropelar pessoas no desfile de 2017 e que a Mangueira tem um presidente político interessad­o em rivalizar com o prefeito.

Mas ninguém esperava unanimidad­e em torno dos desfiles, ainda mais nos dias atuais. Como lembrou um amigo especialis­ta em Carnaval, o mais importante é que o espetáculo da Sapucaí voltou a provocar debates e reflexões mesmo entre gente que havia muito não o acompanhav­a. Beija-Flor, Tuiuti e Mangueira reafirmara­m a força da arte que as escolas de samba fazem.

Fora da avenida, o governador e o prefeito reafirmara­m o pouco crédito que merecem de seus governados e valorizara­m as críticas que lhes fizeram os sambistas. Ausentaram-se da cidade na época que mais atrai turistas, vendo de longe o Rio passar por arrastões, roubos e tiroteios em série.

“Não estávamos preparados”, disse Pezão, sobre os episódios de violência. Crivella provavelme­nte se deu por satisfeito por ter pedido ajuda da Força Nacional antes e, tendo ela negada, foi para a Europa —Deus o livre de ficar na cidade no Carnaval. marco.canonico@grupofolha.com.br MATIAS SPEKTOR

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