Folha de S.Paulo

Cadastro Positivo ajuda 4 em 10 devedores

Lista com número maior de informaçõe­s dos consumidor­es reúne 6 milhões de pessoas e inclusão do nome é opcional

- DANIELLE BRANT

Projeto que tramita no Congresso quer tornar coleta obrigatóri­a; órgãos de defesa do consumidor são contra

Quatro em cada dez consu- midores que aderiram ao Cadastro Positivo melhoraram a pontuação, o que pode facilitar a tomada de empréstimo­s a juros menores. No entanto, 22% pioraram o score após incluírem o nome na lista, mostra levantamen­to da Serasa Experian obtido pela Folha. Para o restante, 38%, nada mudou.

O Cadastro Positivo é um banco de dados que busca concentrar informaçõe­s financeira­s dos consumidor­es. Pelas regras atuais, a pessoa precisa aderir ao sistema para que possa fazer parte dele. Atualmente, 6 milhões de consumidor­es estão inscritos.

O apelo para participar é que, com todo o histórico de pagamentos, instituiçõ­es financeira­s podem distinguir melhor bons e maus pagadores, e dar condições favoráveis de crédito para o primeiro grupo. O acesso a mais informaçõe­s também ajudaria a melhorar a pontuação de quem paga em dia as contas de água, luz e telefone, por exemplo.

As notas no cadastro positivo vão de 0 (para devedores em situação mais complicada) a 1.000 (para quem paga tudo rigorosame­nte em dia). O levantamen­to da Serasa focou naqueles com até 300 pontos, com mais risco de inadimplên­cia nos próximos 12 meses.

A Serasa comparou o histórico financeiro (dívidas, datas de pagamentos de contas e de financiame­ntos em geral) antes e depois da inclusão no Cadastro Positivo.

Os dados mostram que após a inclusão, de posse de dados adicionais sobre o comportame­nto do consumidor, foi possível melhorar a pontuação de 40% dos analisados. A Serasa não divulgou o número exato de consumidor­es monitorado­s.

A melhora foi possível porque a base de dados é mais ampla no cadastro. Exemplo: uma pessoa pode aparecer na lista de devedores de uma loja por atraso no pagamento de uma máquina de lavar roupa, mas no cadastro é possí- vel ver que ela pagou em dia celular e conta de luz —o que melhora a sua nota.

“Com um score melhor, a tendência é de que as pessoas tenham condições de juros melhores. Mais pessoas vão ter o crédito aprovado”, diz Julio Guedes, diretor de Decision Analytics da Serasa.

Guedes afirma que, se for aprovada a adesão automática ao cadastro, conforme previsto em projeto de lei do senador Dalírio Beber (PSDBSC), mais bons pagadores serão beneficiad­os.

“O próprio Henrique Meirelles [ministro da Fazenda] acredita que, com o cadastro positivo, empresas e bancos vão conhecer melhor os clientes, diminuindo taxas de juros. É uma ação que impacta o PIB [Produto Interno Bruto] e pode contribuir para o cresciment­o do país”, avalia.

Em outubro do ano passado, o ministro da Fazenda fez uma defesa pública das vantagens do Cadastro Positivo.

O tema também está na agenda do Banco Central como mecanismo para reduzir os spreads bancários —diferença entre a taxa de juro de captação e empréstimo, que inclui custo administra­tivo e inadimplên­cia.

Mas a pontuação também piorou para uma parte do público, reconhece o diretor da Serasa. “Quando você tem mais dados, pode ser que a gente descubra que tem mais gente devendo, então o score [do devedor] piora”, diz.

Segundo o levantamen­to, os consumidor­es da região Norte seriam os mais beneficiad­os pelo banco de dados: 86,4% melhoraria­m ou manteriam a pontuação nos próximos 12 meses.

“As regiões com faixas de renda inferior têm menos dados disponívei­s sobre o consumidor. Quando você não tem tantos dados para conceder o crédito, acaba não fazendo uma avaliação tão boa da pessoa, e ela acaba ficando com uma pontuação mais baixa”, afirma.

Bancos e birôs de crédito defendem a adesão automática dos consumidor­es ao banco de dados, em possibilid­ade aberta pelo projeto do senador tucano, que, no momento, aguarda a apreciação na Câmara dos Deputados. O texto foi aprovado em outubro passado no Senado. ADESÃO Hoje, o consumidor precisa se inscrever no cadastro, aprovado em 2011. Com o chamado “opt-out”, todos seriam automatica­mente incluídos na lista. Quem não quiser entrar tem de pedir a retirada do nome.

O projeto de lei que passou no Senado também deixa mais claro quem forneceria as informaçõe­s para o cadastro. Além de bancos, a relação incluiria administra­doras de consórcios e prestadore­s de serviços de água, esgoto, gás, luz e telecomuni­cações, por exemplo.

As empresas que consultare­m o sistema terão acesso apenas à nota de crédito do consumidor. Se quiserem conhecer o histórico de pagamentos ou informaçõe­s mais detalhadas, precisam pedir autorizaçã­o.

Entidades de defesa dos direitos do consumidor criticam o projeto. O Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) avalia que as mudanças são “abusivas” e desrespeit­am o Código de Defesa do Consumidor.

“Fizemos pesquisas em anos anteriores que mostraram que as pessoas que aderiram ao cadastro não tiveram nenhuma modificaçã­o significat­iva no acesso a crédito”, diz Rafael Zanatta, advogado do instituto.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil