Folha de S.Paulo

Poupança em tempo de juro baixo

- VINICIUS TORRES FREIRE

UM COLEGA pede uma avaliação de investimen­tos que um banco ofereceu a ele. Trata-se de um CDB que paga 104% do DI e uma LCI que paga 96% do DI —as siglas são explicadas mais abaixo.

Como esse colega tem salário razoável e aplicações de certo volume no banco, não deve estar nem de longe pegando as piores taxas de rendimento do mercado. Em um ano, seu CDB deve render uns 5,8%, descontado o Imposto de Renda. Descontada a inflação esperada para o período, é um rendimento de 1,7%. No caso da LCI, o rendimento real seria algo melhor, 2,4%.

E daí? É fácil perceber que ficou mais difícil ganhar dinheiro com aplicações de renda fixa. Se a economia do país melhorar de fato, vai continuar difícil.

Na semana passada, o Banco Central baixou a Selic, a taxa básica da economia, para 6,75%. O DI rende um pouco menos que isso. A taxa do DI é a dos negócios do atacadão de dinheiro. com base nos negócios futuros com DI fechados na semana passada. É apenas um exercício didático, para facilitar comparaçõe­s e dar alguma medida de grandeza dos rendimento­s.

As aplicações na caderneta de poupança devem render 4,8% em um ano, rendimento real de menos de 0,8%. Fundos de renda fixa simples que cobram 1% ou mais de taxa de administra­ção não devem render mais do que a poupança.

Esses fundos simples precisam dos cotistas em ativos de baixo risco. Por exemplo, em títulos do governo federal, os mesmos que se compram no Tesouro Direto (que, comprados sem intermediá­rios, rendem mais). É o grosso dos fundos de varejo dos bancos.

CDB, Certificad­o de Depósito Bancário, é um empréstimo para bancos, que oferecem uma porcentage­m do rendimento do DI, de acordo com o volume da aplicação. Um CDB que pague 100% do DI deve render 1,6% em um ano, mais que a poupança, em termos reais, mas não muito animador. Uma Letra de Crédito Imobiliári­o (LCI) que pague 100% do DI renderia 2,7%, maior terá de se arriscar mais, em investimen­tos de longo prazo (mais de cinco anos) ou de renda variável.

Para dar um exemplo simples, um título do Tesouro Direto com vencimento em 2024 (uma NTNB) pode render 3,4% além da inflação, caso o dinheiro permaneça aplicado até o vencimento (supondo uma taxa de administra­ção de 0,5%, descontado o IR). Para uma NTNB com vencimento em 2035, o rendimento vai a 4%.

O risco é o de variação da taxa de juros e/ou de “desaplicar” antes do prazo de vencimento. Quanto maior o prazo da aplicação, maior a possibilid­ade de variação do rendimento, para baixo ou para cima, a depender da taxa de juros no momento da venda dos títulos —isto é, da “desaplicaç­ão” do dinheiro.

No caso de ações ou fundos multimerca­do (que podem combinar

Este texto não contém recomendaç­ão alguma de investimen­to, que sempre depende de caracterís­ticas muito individuai­s, mais do que roupa sob medida. Chama apenas a atenção para a queda da rentabilid­ade e, pior, para o risco de rendimento nenhum, a depender das taxas de administra­ção. vinicius.torres@grupofolha.com.br

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