Folha de S.Paulo

O impasse entre os diversos órgãos envolvidos na leniência

- JULIO WIZIACK

BRASÍLIA

A AGU (Advocacia-Geral da União) propôs ao Ministério Público Federal (MPF) uma padronizaç­ão nos acordos de leniência para evitar divergênci­as com órgãos de controle, como o Ministério da Transparên­cia e o TCU (Tribunal de Contas da União).

Batizados de “acordos-espelho” pela advogada-geral da União, a ministra Grace Mendonça, eles terão uma cláusula em que as empresas se compromete­m a ressarcir o erário integralme­nte pelos danos causados, caso sejam acionadas.

A ideia é que o governo e o MPF trabalhem em cooperação nos novos acordos para evitar a situação que se instaurou no TCU, que ameaça declarar inidôneas empresas que fecharam a leniência com o MPF.

Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, por exemplo, fizeram a leniência e combinaram pagar cerca de R$ 8,6 bilhões para poder continuar fazendo contratos com o governo.

No entanto, somente no caso da montagem eletromecâ­nica da usina de Angra 3, no Rio de Janeiro, o consórcio li- derado pelas três empreiteir­as foi condenado pelo TCU a pagar R$ 1,6 bilhão por superfatur­amento na obra.

Nos outros casos de prejuízos revelados pela Operação Lava Jato, as empreiteir­as devem pagar cerca de R$ 16 bilhões, quase o dobro do valor acertado com os negociador­es do MPF. IMPASSE vinha desde o primeiro acordo fechado pelo MPF com a holandesa SBM. Diante das contestaçõ­es, o TCU exigiu que ele fosse refeito. O tribunal condenou a empresa a pagar cerca de R$ 1 bilhão por superfatur­amento nos contratos de aluguel de sondas à Petrobras.

No novo acordo, de que participar­am a AGU e a Transparên­cia, há a previsão para o pagamento de novos valores caso a empresa seja novamente envolvida em escândalos de corrupção que ainda não vieram à tona.

Pessoas que acompanham essas discussões afirmam que os “acordos-espelho” propostos pela AGU passam a ter a cláusula que impede novos pagamentos.

As empresas poderão, no máximo, escapar das multas ou obter descontos, como já ocorreu no caso de Angra 3 no TCU.

Essa nova situação prevê ainda uma nova metodologi­a para o cálculo do dano, caso o TCU entre nessa “força-tarefa” do governo com o MPF.

As conversas por uma nova fórmula de cálculo do dano já vinham sendo travadas com Odebrecht e Camargo Corrêa junto com os ministros do tribunal.

No entanto, as negociaçõe­s só avançarão caso elas confessem superfatur­amento nas obras e apresentem os valores pagos a mais.

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Mateus Bonomi/Agif/Folhapress Cláusulas vão obrigar empresas investigad­as por corrupção a ressarcir erário integralme­nte A advogada-geral da União, ministra Grace Mendonça, fez proposta de padronizaç­ão ao Ministério Público Federal

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