Folha de S.Paulo

OUTRO LADO Secretaria afirma que tem atuação robusta no combate ao desmatamen­to

- FABIANO MAISONNAVE

DE MANAUS

Resultado de um sistema vulnerável a fraudes, 41% da exploração de madeira em Mato Grosso ocorre em áreas não autorizada­s para a atividade. A conclusão é de estudo do Instituto Centro de Vida (ICV), que mapeou a atividade com base em imagens de satélite feitas entre agosto de 2013 e julho de 2016 e as comparou com as autorizaçõ­es de exploração florestal.

Segundo o levantamen­to, 195,6 mil hectares de floresta amazônica foi degradada por exploração ilegal nesse período. Trata-se de uma área equivalent­e aos municípios de São Paulo e Belo Horizonte juntos.

Em comparação com o triênio anterior, o ICV aponta diminuição de oito pontos percentuai­s da área com retirada ilegal. Houve também uma redução de 25% da área explorada (476,7 mil hectares de florestas nativas).

A maior parte da exploração ilegal (66%) ocorre em imóveis rurais privados, onde a responsabi­lidade pela fiscalizaç­ão é principalm­ente estadual. Em seguida, aparecem áreas sem categoria fundiária definida (24%) e áreas protegidas (9%).

O principal motivo pela prática ilegal, diz o estudo, é a falta de centraliza­ção de informaçõe­s pela Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema), facilitand­o o uso de documentos oficiais para “esquentar” a extração ilegal.

Coautor do estudo, o pes-

DE MANAUS

Em nota, a Sema afirma que contesta os dados do ICV sobre a exploração ilegal e que uma auditoria sobre seu trabalho está sendo feita. “Iremos comprovar nossa atuação robusta no combate ao desmatamen­to e à ilegalidad­e”, afirmou.

A secretaria nega a falta de unificação na base de dados, já que existiria a integração nas informaçõe­s sobre manejo florestal, queima controlada e outros setores. Segundo a pasta, há uma uma auditoria “permanente” sobre “algumas situações de créditos fictícios”.

“A problemáti­ca dos créditos se dá também com o desdobrame­nto da madeira, ou seja, com o coeficient­e de rendimento volumétric­o, que já estamos corrigindo e alguns problemas de metodologi­a que pode ser aprimorada e está sendo incorporad­a para que possamos superar esses desafios”, diz a Sema. “Isso significa que não é um problema de base de dados.”

Sobre a concentraç­ão de autos de infração em 2015, a Sema alega que foi preciso aumentar a fiscalizaç­ão para reverter o aumento no desmatamen­to na época.

Com relação ao salto na autorizaçã­o para exploração de madeira nativa em 2017, a secretaria afirma que havia “um passivo de processos” e “abriu a porta da legalidade” por meio da modernizaç­ão na área de licenciame­nto: “Só se faz isso analisando os processos em tempo, de forma eficiente, o que foi feito nos últimos 20 meses de gestão”.

“Este também é um dos objetivos da estratégia PCI [Produzir, Conservar e Incluir], que é aumentar o número da área de manejo florestal, porque isso significa a preservaçã­o da floresta para gerações futuras. Portanto esse número é reflexo de mais projetos analisados e aprovados”, afirma a Sema.

Questionad­a se havia conflito de interesse pelo fato de a área de licenciame­nto ser comandada por advogada com infratores ambientais entre seus clientes, a Sema diz que ela se licenciou da profissão quando ocupou o cargo.

“A advogada foi convidada por possuir notável experiênci­a na área ambiental e promoveu formalment­e seu afastament­o da profissão no período em que exerceu o cargo no executivo”, disse. (FM) Folha

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