Folha de S.Paulo

Festival de Teatro de Curitiba responde a polêmicas na arte

Acusados de pedofilia e desrespeit­o a religiões, artistas debatem censura em peça

- MARIA LUÍSA BARSANELLI

Titãs estreia na mostra ‘Doze Flores Amarelas’, ópera-rock criada com os autores Hugo Possolo e Marcelo Rubens Paiva

Em sua 27ª edição, o Festival de Teatro de Curitiba busca responder às polêmicas que marcaram as artes em 2017.

Para nortear sua curadoria, a mostra, que vai de 27/3 a 8/4, parte da primeira frase do laudo médico sobre o assassinat­o do cineasta Pier Paolo Pasolini (1922-75): “Se é de corpos e cidades que devemos falar”.

Dali os curadores Guilherme Weber e Marcio Abreu tecem ligações com Curitiba e com o corpo. Tanto que há uma forte presença de trabalhos de dança nesta edição, entre eles “Gira”, do Grupo Corpo, que abre a programaçã­o, e o coreógrafo Bruno Beltrão, que apresenta “Inoah”.

Mas é também ali que falam das polêmicas do último ano, fato explicitad­o no inédito “Domínio Público”, que debate censura e conservado­rismo.

A peça é assinada por quatro artistas, entre eles Wagner Schwartz, acusado de pedofilia após ter seu corpo nu tocado por uma criança numa sessão de “La Bête” no MAM (trabalho que passara pelo Festival de Curitiba um ano antes), e a performer Elizabeth Finger, mãe da criança em questão.

Além deles, há Renata Carvalho, atriz travesti que interpreta um Cristo transexual em “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu” —peça que teve sessões vetadas pela Justiça depois de ser acusada de desrespeit­o a religiões—, e Maikon K, preso por atentado ao pudor após uma performanc­e , em Brasília, de “DNA de DAN”, na qual fica nu.

“Era inevitável que a curadoria deste ano fosse feita em cima de tudo o que as artes sofreram em 2017”, diz Weber.

Segundo ele, isso ainda se reflete numa maior ocupação do espaço público de Curitiba, com trabalhos que dialogam com a cidade, caso de “Cabaret Macchina”, da Casa Selvática, e “Se o Título Fosse um Desenho, Seria um Quadrado em Rotação”, de Eleonora Fabião, feito com moradores. É uma forma, diz Abreu, de criar “relações mais verticais com o público”. INEDITISMO Desde que assumiram a curadoria da mostra, há três anos, Abreu e Weber fugiram do ineditismo que por muito tempo marcou o Festival de Curitiba —e que, segundo eles, não fazia mais sentido na atual forma de produção e circulação de espetáculo­s; nem no momento de crise.

Decidiram investir em “interlocuç­ões”, trabalhos que dialogamen­tresi,ecoproduçõ­es entre artistas e o festival, que neste ano chegaram a quatro: além de “Domínio...” e “Se o Título...”, há “Denise Stoklos em Extinção”, obra da diretora que bebe em Thomas Bernhard, e “Ilha de Narciso”, texto de Sérgio Blanco com atuação de Gilberto Gawronski.

Ainda assim, esta edição guarda algumas estreias, como “Doze Flores Amarelas”, ópera-rock dos Titãs criada com os dramaturgo­s Hugo Possolo e Marcelo Rubens Paiva e que trata de assédio. E “Insetos”, nova peça da Cia dos Atores. Com texto de Jô Bilac e direção de Rodrigo Portella, debate o papel do artista no mundo contemporâ­neo.

Há também grandes montagens que passaram pelo circuito Rio-São Paulo —“Grande Sertão Veredas”, com direção de Bia Lessa, “Boca de Ouro”, em encenação de Gabriel Villela, e “Os Guardas do Taj”, com Reynaldo Gianecchin­i e Ricardo Tozzi, são algumas.

Entre as estrangeir­as, destaque para “Tristeza e Alegria na Vida das Girafas”, texto do português Tiago Rodrigues (em que fatos políticos e sociais são vistos pelos olhos de uma criança) encenado pela companhia francesa 8 Avril. QUANDO 27/3 a 8/4 QUANTO grátis a R$ 70; à venda a partir desta quinta (15) no site festivalde­curitiba.com.br

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Bruno Santos/Folhapress ‘Gira’, do Grupo Corpo, que abre a programaçã­o da mostra no dia 27 de março

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