Partidos têm mais filiadas do que candidatas
Mulheres são 44,27% nas legendas, mas apenas 10,94% no Congresso
Mulheres no Legislativo federal em janeiro de 2018, em % Congresso Nacional Câmara dos Deputados Senado
Brasil vira ‘exemplo negativo’ e cai para 151º lugar no mundo; para professor, desequilíbrio amplia até a corrupção DE SÃO PAULO
A desigualdade de gênero na política brasileira vem da base: maioria na população (51,7%), as mulheres são 44,27% dos filiados a partidos.
O descompasso piora na escolha de candidatos, agravase nas eleições e situa o Brasil em 151º lugar no mundo.
Em 2016, 31,6% dos candidatos foram mulheres. A assimetria piora entre os eleitos: na composição atual do Congresso, 10,94% dos parlamentares são mulheres. A média mundial é de 23,5%.
Para o professor da Universidade de Brasília e cientista político Wladimir Gramacho, 46, os números refletem uma assimetria social. “Mulheres ainda têm menos chances de ocupar posições de liderança na política e nas empresas”.
A situação no Executivo é semelhante. Em 2014, só um Estado elegeu governadora: Suely Campos, do PP, em Roraima, que entrou na disputa após o marido ter a candidatura barrada pelo TSE. Menos de 12% dos municípios elegeram prefeitas em 2016.
“Violência doméstica, deficit salarial, baixo acesso a cargos de chefia: o país não está avançando”, reforça a advogada Karina Kufa, 37.
Presidente do Instituto Paulista de Direito Eleitoral, ela critica recentes debates sobre a interrupção de gravidez, embora ressalve que a pauta não é uníssona. “Não apoio o aborto, mas critico fixar a criminalidade na mãe.”
A escritora Maria Aparecida Schumaher, 65, a Schuma, reforça essa visão: “Nunca houve responsabilização dos homens no aborto; quem faz as leis são, na maioria, eles”.
Ela é coordenadora-executiva da Redeh, que pesquisa dados sobre as mulheres no Brasil, e é coautora de livros como “Mulheres no Poder” (Edições de Janeiro, 2015).
“Não que homens não possam falar de direitos femininos, mas há pautas historicamente lesadas”, afirma a jornalista Giulliana Bianconi, 34, uma das diretoras da agência Gênero e Número.
Ela lamenta casos como o de uma deputada no RJ que “tinha tudo para se candidatar a deputada federal, mas desistiu por ter filho pequeno” como exemplo de que a questão é maior: “É preciso rediscutir a divisão do trabalho”.
Gramacho vai além: “Estudos sugerem que mulheres têm menos chance de praticar corrupção. Não porque sejam menos corruptas, mas porque os custos que enfrentaram foram em geral mais altos, e faz menos sentido arriscar”. NA CONTRAMÃO O assunto sobressai com as recentes discussões sobre empoderamento, as eleições e os cem anos, em 2018, desde que mulheres obtiveram o direito de votar na Inglaterra.
No Brasil, há 90 anos foi eleita a primeira prefeita, Alzira Soriano (1887-1963), em Lajes (RN), cassada em 1930, à ascensão de Getúlio Vargas.
O país teve a primeira deputada federal em 1934: Carlota Pereira de Queiroz (18921982), escolhida por SP para a Assembleia Constituinte.
A primeira senadora veio em 1979: Eunice Michiles (AM), suplente de um senador que morreu. Antes dela, a princesa Isabel havia sido senadora, em 1871, graças a uma reserva a “príncipes”.
De 2009, a lei 12.034 destine no máximo 70% das candidaturas a um mesmo sexo —uma reserva às mulheres que fez crescer candidaturas delas, mas teve pouca influência na proporção de eleitas.
A média mundial de legisladoras foi de 23,5% em 2017, segundo a União Inter-Parlamentar, que compara 193 nações. O Brasil caiu do 116º posto para o 151º. “Exemplo negativo”, diz a UIP, “destoante da tendência mundial”. Filiados de cada partido, em % Homens 50% AVANTE PODE PSOL PRTB PROS PEN