Folha de S.Paulo

Financiame­nto e visibilida­de são os principais obstáculos

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DE SÃO PAULO

Para estudiosos, os obstáculos para a simetria de gênero na política são o financiame­nto e a visibilida­de.

“Não há reserva de verbas ou de propaganda. Sem dinheiro, ninguém faz campanha; sem visibilida­de, ninguém se elege”, diz Karina Kufa, presidente do Ipade.

Em 2014, campanhas de mulheres à Câmara arrecadara­m, em média, menos de um terço que a dos homens.

“Quando elas gastam o mesmo, têm mesmas chances”, diz a socióloga Clara Araújo, coordenado­ra de núcleo sobre desigualda­de na UERJ e autora de “Gênero, Família e Trabalho no Brasil” (Editora FGV, 2005).

A cientista política Patrícia Rangel, 33, que pesquisa o tema em pós-doutorado na USP, adiciona que, segundo estudos, quanto maior o nível de gastos nas campanhas, menos chances as mulheres têm. O problema é maior no Brasil, diz, “que gasta três vezes mais que a média latino-americana”.

Rangel denuncia o uso de candidatas “fantasmas”, sem chances efetivas, só para cumprir a cota. Em 2016, 10% das candidatas a vereadoras tiveram zero votos ou apenas um. Entre homens, a proporção foi de 0,6%.

Kufa, presidente do Ipade, é a favor de mais cotas, para “forçar uma paridade”. As reservas, diz, deveriam cobrir vagas no Congresso e nas direções dos partidos.

Ela também propõe que, mantida a lista aberta, metade dos eleitos “puxados” por votações de outros candidatos sejam mulheres. Isso teria efeito na Câmara, onde cerca de 90% dos deputados se beneficiar­am da dilatação do quociente eleitoral.

Já a socióloga Clara Araújo entende que uma eventual cota de assentos “acoberta as bases da desigualda­de”. A solução, diz, passa por “estimular jovens a crer que podem participar em igualdade de condições”.

(RG)

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