Folha de S.Paulo

Deputados usam cota em posto de colega

Metade da bancada de Roraima gastou R$ 70 mil de recursos da Câmara para abastecer em rede de Abel Mesquita (DEM)

- THAIS BILENKY

Shéridan (PSDB) usou R$ 50 mil em empresa de parlamenta­r; ela afirma que capilarida­de justifica escolha

Quatro dos oito deputados federais de Roraima abastecem no posto de gasolina Abel Galinha, do colega da bancada na Câmara Abel Mesquita Jr. (DEM).

No último mandato, até dezembro de 2017, os quatro gastaram R$ 70 mil da cota parlamenta­r na empresa do conterrâne­o, sendo que Shéridan Oliveira (PSDB) respondeu por R$ 50 mil do total.

Hiran Gonçalves (PP) gastou R$ 13 mil, Maria Helena (PSB), R$ 1.500 e Edio Lopes (PR), R$ 4.000. Os valores foram corrigidos pela inflação.

As normas da Câmara proíbem que um deputado use recursos da Casa em empresas próprias ou de familiares, mas não há menção a situações como a de Roraima.

O preço cobrado pelo litro de gasolina no posto Abel Galinha é mais caro que o praticado na cidade de Boa Vista.

Segundo a ANP (Agência Nacional de Petróleo), a média municipal no final de janeiro era de R$ 4,086 e o estabeleci­mento do deputado cobra R$ 4,10. Mas, quando a Folha esteve um dos postos da rede, na avenida Ville Roy, no dia 17 de janeiro, havia uma placa anunciando “promoção de gasolina comum” a R$ 4,20.

Órgãos do governo federal em Roraima também usam o posto do deputado.

Segundo a base de dados Datascópio (dados.org), o montante repassado pelo governo federal ao posto do deputado soma R$ 7,6 milhões desde 2015, quando assumiu a cadeira na Câmara.

A rede Abel Galinha foi importante financiado­ra de campanhas do deputado em 2014. Repassou R$ 140 mil de um total de R$ 237 mil.

Mesquita não abastece em seu próprio posto, mas, quando era vereador, gastou R$ 80

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mil da Câmara na rede, segundo o “Fantástico” (TV Globo). “E eu ia comprar de quem?”, reagiu na ocasião.

Titular até dezembro da comissão especial de regulament­ação de postos de combustíve­l, o deputado não tem proposição legislativ­a aprovada. Seus dois projetos versam sobre o setor elétrico.

Ele gastou, em 2017, R$ 42 mil em postos de combustíve­l —média mensal de R$ 3.500. RODAGEM Já Shéridan gastou no ano passado com combustíve­l R$ 52 mil da cota, uma média de R$ 4.300 por mês, gastos no posto Abel Galinha e no São João, que fica em Brasília.

Ela declarou ter alugado com recursos da Casa um carro por mês, exceto em fevereiro e março, quando alugou dois. O tanque do Ford Fusion que informou ter usado tem capacidade para 62 litros de combustíve­l.

Consideran­do como média anual do preço do litro da gasolina de R$ 4, ela rodou 11 mil quilômetro­s, de acordo com o consumo médio do carro no teste Folha-Mauá. É o equivalent­e a dez vezes a distância de São Paulo a Brasília (de 1.080 km). OUTRO LADO Em nota, Shéridan afirmou que “nunca ultrapasso­u” o valor estipulado pela Câmara com gastos de combustíve­l.

“Apesar de possuir apenas 15 municípios, Roraima tem área de 224 mil km², maior que a de muitos países como Uruguai e Tunísia. A única forma de deslocamen­to é via malha rodoviária e essa possui quase 8.000 km”, disse.

Sua assessoria afirmou que o combustíve­l abastece mais de um veículo para a deputada e também servidores de seu gabinete, mas não especifico­u quantos e quais.

A deputada disse que o posto Abel Galinha “faz parte da maior rede de combustíve­is do Estado, e é natural que seja o mais procurado”.

Procurados, Mesquita, Gonçalves, Maria Helena e Lopes não respondera­m aos contatos da reportagem.

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