Pessoas com problemas mentais jamais deveriam ter acesso a uma arma
DE SÃO PAULO
Expulso da escola por problemas disciplinares, o exaluno que matou 17 pessoas a tiros em um colégio em Parkland, Flórida, na quarta (14), integrava um grupo que prega o racismo, passara por tratamento psiquiátrico e usava redes sociais para mostrar seu apreço por armas, segundo ex-colegas e investigadores envolvidos no caso.
Os motivos que levaram Nikolas Cruz, 19, a realizar o atentado ainda não estavam claros na noite desta quinta (15). Mas o presidente dos EUA, Donald Trump, já declarou que quer lidar com “a difícil questão da saúde mental” para evitar ataques em escolas norte-americanas.
Pais e alunos pediram a instalação de detectores de metal nas escolas, enquanto outros reivindicaram maior controle de armas.
Trump, porém, não tocou no assunto, que causa divisão profunda na sociedade americana, cuja Constituição garante o porte de armas, mas que lida com chacinas frequentes em locais como escolas, shoppings e igrejas.
Cruz foi preso cerca de duas horas após disparar na escola de ensino médio Marjory Stoneman Douglas, onde estudou até o ano passado. Ele responderá por 17 acusações de homicídio com premeditação. Com ele, foram achados munição e um fuzil AR-15, semiautomático.
A arma foi comprada pelo próprio adolescente, de forma legal, segundo a polícia, embora Cruz tivesse passado por tratamento psiquiátrico recentemente. Ele abandonou a clínica há cerca de um ano, segundo autoridades.
Em redes sociais, postava fotos com armas e facas, se- gundo colegas, que o descrevem como “retraído” e “perturbado”. “Ele é aquele garoto estranho, um tipo solitário”, afirmou o aluno Daniel Huerfano à Associated Press.
Estudantes contaram que Cruz disparava o alarme de incêndio todo dia, até ser expulso, lia revistas de armas e falava em matar animais.
Um grupo que defende a supremacia branca sobre os demais, República da Flórida, informou que Cruz consta entre seus membros, mas negou relação com o ataque.
O adolescente perdeu a mãe adotiva há três meses, morta de pneumonia. Viúva, Lynda Cruz criara os filhos sozinha. Até o crime, ele e o irmão estavam sob os cuidados de amigos da família.
“Ninguém percebeu algo errado”, disse o advogado Jim Lewis, que representa a família com que Cruz morava.
Professores afirmaram que receberam no ano passado um e-mail da direção da escola avisando que Cruz poderia ser uma ameaça e pedindo cuidado se ele fosse visto no local com uma mochila.
Colegas afirmam que Cruz tinha um relacionamento conturbado com a ex-namorada e já havia brigado com o atual namorado dela. Mas a polícia não informou se isso motivou o ataque. MEDIDAS Em pronunciamento, Trump afirmou que fará da segurança nas escolas prioridade, mas não mencionou o controle de armas nos EUA, assunto que volta à tona a cada novo tiroteio no país. É a mesma linha de pronunciamento adotada pelo republicano em chacinas recentes.
O raciocínio foi replicado pelo governador da Flórida, Rick Scott, também republicano.
RICK SCOTT
governador da Flórida “Acima de tudo, pessoas que têm problemas mentais jamais deveriam ter acesso a uma arma”, afirmou.
Políticos que defendem reduzir o acesso a armas, por sua vez, querem debate.
“Essa epidemia de chacinas não acontece em nenhum outro lugar do mundo”, discursou o senador democrata Chris Murphy. “Não é coincidência, não é azar. É consequência da nossa inação.”
“Agora é a hora deste país ter uma conversa real sobre as leis de controle de armas”, afirmou Rob Runcie, superintendente das escolas do condado de Broward, onde fica o colégio atingido.
“Senão, não será questão de se [massacres a tiros irão acontecer], e sim de quando.”
O republicano Paul Ryan, presidente da Câmara, disse que o momento não é para “tomar posições e brigar politicamente”, mas de união.
Ele lembrou que, após 58 pessoas serem mortas a tiros em um show em Las Vegas, a Câmara aprovou projeto de lei que aprimora a checagem de antecedentes de quem quer comprar arma. A proposta, porém, aguarda o Senado.
DE WASHINGTON
Professores que protegiam seus alunos e estudantes com bolsa de estudos e premiações nacionais estão entre as vítimas do tiroteio que matou 17 pessoas em uma escola em Parkland, na Flórida, na quarta (14).
A lista das vítimas ainda não foi divulgada oficialmente pelas autoridades, mas familiares e amigos noticiaram as mortes em redes sociais.
Uma das vítimas é de Scott Beigel, 35, professor de geografia na Marjory Stoneman Douglas. Segundo os relatos de sobreviventes, ele abriu a porta para um grupo de alunos entrar na sala, a fim de se protegerem do atirador. Enquanto tentava trancar a porta, acabou morto por Nikolas Cruz, 19, que invadiu a escola com um rifle AR-15.
“Ele trancou a porta novamente para que ficássemos seguros, mas não teve a mesma chance”, disse Kelsey Friend, uma das alunas, à CNN.
O mesmo fez o aluno Peter Wang, 15, outro morto no tiroteio: segurou a porta para outros colegas fugirem, e acabou atingido por uma bala.
Carmen Schentrup estava no último ano do ensino médio. No ano anterior, fora semifinalista da Medalha Nacional do Mérito Escolar nos EUA. Seu colega de turma, Nicholas Dworet, havia recebido uma bolsa para a Universidade de Indianápolis. Ele também foi morto.
Outras 14 pessoas continuam internadas. Duas delas estavam em condição crítica nesta quintafeira (15).
(EHC)