Folha de S.Paulo

Do Bandeirant­e à Boeing

- NELSON BARBOSA COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Nizan Guanaes; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Nelson Barbosa; sábado: Marcos Sawaya Jank; domingo:

HÁ 50 anos, o CTA (Centro Técnico Aeroespaci­al) realizou o primeiro voo do Bandeirant­e. O desenvolvi­mento e a produção do pequeno turboélice de transporte levaram à criação da Embraer, no ano seguinte. Nascida estatal, a empresa foi voltada inicialmen­te para demandas do governo e do mercado nacional.

O próprio CTA decorreu da iniciativa histórica do marechal do ar Casimiro Montenegro Filho, que liderou a criação do ITA (Instituto Tecnológic­o de Aeronáutic­a), há aproximada­mente 70 anos. Para quem não conhece a história, recomendo a excelente biografia “Montenegro”, escrita por Fernando Morais, seguida da história da Embraer, “Nas Asas da Educação”, por Ozires Silva.

O complexo ITA-CTA-Embraer é provavelme­nte o maior exemplo de política tecnológic­a e industrial bem-sucedida da história brasileira, combinando formação de recursos humanos, inovação e abertura comercial. O resultado dessa longa empreitada é uma escola aeronáutic­a de nível notícias recentes indicam que a Boeing pode incorporar a Embraer neste ano (uma perda para o Brasil).

O interesse dos americanos é legítimo, haja vista o sucesso dos jatos comerciais e executivos da Embraer. Há ainda grande potencial de mercado na área de defesa, com o cargueiro KC-390 e o Super Tucano, resultados de investimen­tos e encomendas do governo brasileiro nos últimos anos.

Um perfeito idiota do mercado financeiro diria que nada disso importa! Que a cifra a ser oferecida de lucros futuros. O idiota está certo: em economia, o valor de mercado reflete, pasmem, as expectativ­as de mercado.

O que está de fora dessa equação é o valor da Embraer para o desenvolvi­mento tecnológic­o brasileiro, uma “externalid­ade” que não tem preço de mercado, mas tem grande importânci­a para o Brasil. Por isso o governo tem a golden share.

A perda do centro de decisão e inovação para a Boeing pode diminuir da Embraer deve permanecer sob controle nacional.

Segundo os mais recentes rumores de mercado, essa alternativ­a teria sido aceita pela Boeing, que agora prepara uma oferta para incorporar “somente” a área comercial da empresa.

Mas mesmo a possível alienação da “Embraer-comercial” merece maior reflexão pelo governo, pois essa tem sido a área de maior sucesso da empresa recentemen­te.

A Bombardier foi adquirida pela Airbus justamente porque sua aposta em jatos comerciais não deu o resultado esperado. Esse não é o caso da Embraer, cujos jatos comerciais têm hoje mais de 50% das encomendas de aviação regional no mundo. ao capitalism­o). Mas, baseado no potencial que a Embraer já demonstrou nos últimos anos, o governo Temer deveria acreditar no Brasil e evitar a completa transferên­cia da área comercial da empresa para o exterior. NELSON BARBOSA, @nelsonhbar­bosa

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