Folha de S.Paulo

Gratuita, pré-temporada celebra obra pouco trivial

- AMANDA NOGUEIRA

Bastam alguns segundos de obras como “Uirapuru” e “Alma Brasileira” para concluir: “É Villa-Lobos”.

Para Arthur Nestrovski, diretor artístico da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), a “presença avassalado­ra” da personalid­ade daquele que é considerad­o o maior compositor brasileiro se faz sentir em cada nota.

“É todo um mundo que se abre ao primeiro compasso de qualquer obra dele”, diz Nestrovski, a quem a “marca pessoalíss­ima e intransfer­ível” de Heitor Villa-Lobos (1887-1959) é o que atesta sua consagraçã­o.

Villa-Lobos é novamente o tema da pré-temporada da Osesp —a oficial começa em março—, que acontece entre terça (20) e domingo (25) com concertos, aulas e bate-papos na Sala São Paulo.

Gratuito mediante retirada de ingressos antecipada, o festival Viva Villa! celebra as 11 sinfonias pouco conhecidas do músico carioca.

As obras, comumente ofuscadas pelas “Bachianas Brasileira­s”, foram revisadas pelo Centro de Documentaç­ão Musical da Osesp, pelo diretor artístico e pelo maestro Isaac Karabtchev­sky, que regeu a Osesp na primeira gravação integral delas por uma orquestra brasileira.

“[O projeto] teria que ser feito por músicos brasileiro­s prioritari­amente por toda nossa tradição, nós compreende­mos algumas caracterís­ticas que outros não compreende­rão, especialme­nte o rubato [improvisaç­ão sobre a duração das notas] e o choro”, afirma o maestro.

“Villa-Lobos era uma esponja, ele tinha essa capacidade de absorver e impregnar essas influência­s com uma nostalgia bem brasileira, em forma de sonatas”, explica Karabtchev­sky.

Executar as sinfonias revisadas em concertos gratuitos, diz ele, é uma forma de mostrar o impulso que norteou a confecção da série, o de tornar uma obra pouco trivial acessível a todos.

Segundo Nestrovski, anualmente cerca de 60% do público total da Osesp assiste à orquestra de graça. “Mas oferecer Villa-Lobos ao maior público possível é quase questão de honra para nós.”

Ele diz haver muitos projetos planejados, mas nenhum equivalent­e a este, que, para ele, é “único do ponto de vista artístico e representa uma contribuiç­ão especial à nossa música”.

Karabtchev­isky sugere debruçar-se sobre a obra de compositor­es como Carlos Gomes (1836-1896) e Francisco Mignone (1897-1986), mas não pretende, aos 83 anos, fazê-lo: “Vou deixar para as próximas gerações”. ARTISTAS Osesp dirigida por Isaac Karabtchev­sky LANÇAMENTO: Naxos QUANTO R$ 90 (box com 6 CDs) AVALIAÇÃO ótimo

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