Folha de S.Paulo

Wes Anderson não empolga na abertura

Apesar do elenco de astros entre os dubladores e dos elogios a Greta Gerwig, animação teve recepção morna

- GUILHERME GENESTRETI

Presidente do júri do evento alemão, Tom Tykwer também falou sobre a onda de assédio no cinema mundial

O diretor americano Wes Anderson soltou os cachorros na abertura do Festival de Berlim, na manhã desta quinta (15), mas colheu uma recepção tão morna quanto ração amanhecida. Ao menos, foi assim que a imprensa recebeu sua nova animação, “Ilha de Cachorros”.

Seu novo filme, que estreia em junho no Brasil, usa bonecos filmados em estilo “stop-motion” para contar a história de um garoto japonês, Atari, que sai em busca de seu cão, Spots (voz de Liev Schreiber).

O mote que desenrola a trama é a decisão do tio de Atari, o prefeito da cidade, de banir dali todos os cachorros e mandá-los para uma ilha-lixão, incluindo Spots.

Para buscar seu cãozinho, o menino recebe a ajuda de uma matilha desgarrada formada pelo vira-lata Chief (Bryan Cranston) e outros peludos exilados (Edward Norton, Bill Murray, Jeff Goldblum e Bob Balaban).

“Tínhamos a ideia de fazer uma história sobre cachorros num lixão. E também queríamos falar sobre nosso amor pelo cinema japonês”, disse Anderson, que escreveu o roteiro ao lado de Roman Coppola e Jason Schwartzma­n.

O filme reúne ainda nomes como Tilda Swinton, Frances McDormand, Scarlett Johansson e Harvey Keitel. “O bom da animação é que um ator nunca pode recusar alegando indisponib­ilidade: podese gravar a voz em qualquer lugar e a qualquer hora”, brincou o diretor.

Apesar de ser criticado por ter mais estilo do que conteúdo, o novo filme de Anderson tem mais ressonânci­a política. Greta Gerwig, indicada ao Oscar pela direção de “Lady Bird”, dá voz a uma estudante que confronta o governo.

“O mundo começou a mudar enquanto fazíamos o filme, e pensamos que era o momento certo para lançá-lo.”

Numa edição ainda mais politizada do que o habitual, o 68º Festival de Berlim tem em “Ilha de Cachorros” o seu provável título mais pop. A conversa com a imprensa teve direito a ovações a Greta Gerwig (única mulher na disputa do Oscar de direção). Bill Murray resumiu o que sente em ser uma entre tantas vozes famosas no filme. “É como estar no clipe de ‘We Are the World’.” #METOO No primeiro dos grandes festivais de cinema a ocorrer após a onda de denúncias de assédios, o assunto reverberou logo na abertura. Presidente do júri, o cineasta alemão Tom Tykwer (“Corra, Lola, Corra”) afirmou que o tema precisa ser discutido sob o ponto de vista do conteúdo, não dos indivíduos acusados.

“Trata-se de ética e abuso de poder. Só que às vezes não se fala disso, mas sim de pessoas se comportand­o mal, e se aponta o dedo a essas pessoas”, afirmou à imprensa.

Nesta edição, a mostra alemã tratará do tema dos assédios em um seminário e terá um espaço para que vítimas de eventuais abusos procurem aconselham­ento. GUILHERME GENESTRETI

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