Folha de S.Paulo

A inseguranç­a pública

- CARLOS FERNANDO DOS SANTOS LIMA

Duas notícias correlatas parecem indicar um novo rumo para o final de mandato de Michel Temer na Presidênci­a da República.

A primeira é a criação do Ministério da Segurança Pública, retirando esse “assunto” das mãos do Ministério da Justiça.

A outra é a decisão do governo federal de intervir na segurança pública do Rio de Janeiro, Estado que, reconhecid­amente, vive o caos e a anarquia da inexistênc­ia fática do poder público.

Medidas extremas podem parecer úteis, mas o problema de segurança do Rio —e do Brasil— é crônico, resultado de anos de políticas públicas falidas em um Estado dilapidado por lideranças políticas corruptas.

Pensar que a questão possa ser resolvida por um “ippon”, para usar a infeliz analogia do nefasto plano Collor, é ilusão de políticos pensando em candidatur­as improvávei­s ou de ingênuos crentes em Papai Noel e Coelhinho da Páscoa.

Não há plano, não há ideias novas, salvo se considerar­mos nova a ideia de colocar as Forças Armadas na rua. E mesmo que haja repressão brutal da criminalid­ade organizada, ela se espalhará por outros Estados.

Organizaçõ­es criminosas são como água. Tente pegá-la fechando as mãos e ela escorrerá por entre os dedos. É preciso profission­alismo para resolver a questão, o que inclui também, e necessaria­mente, combater a corrupção da política do Rio de Janeiro e do Brasil.

Além disso, outra fraude parece estar sendo encaminhad­a. Em caso de intervençã­o federal, o Congresso Nacional não pode emendar a Constituiç­ão Federal.

O artigo 60, § 1º, da Carta Magna diz expressame­nte que a “Constituiç­ão não poderá ser emendada na vigência de intervençã­o federal, de estado de defesa ou de estado de sítio”. Assim, deve ser paralisado o processo legislativ­o de emendas constituci­onais, o que afeta expressame­nte a PEC da reforma da Previdênci­a.

Não se trata, como pretendem os gênios jurídicos, de suspender a intervençã­o por um dia para votar a reforma. O que a Constituiç­ão defende é a higidez do processo decisório. Portanto, nem sequer podem ser abertas as discussões da Previdênci­a ou de qualquer outra emenda constituci­onal.

Com a decisão de Temer de intervençã­o federal até 31 de dezembro, toda aposta de seu governo —ou desgoverno— será pela solução do problema de segurança do Rio, pois estarão manietadas todas as profundas reformas de que o Brasil precisa.

Para um governo com tantos problemas realmente significat­ivos — dentre os quais, não se nega, está o da violência urbana—, é desanimado­ra a incapacida­de de articular minimament­e um plano para o Brasil, pelo menos para este ano, à espera de que haja vida inteligent­e no governo federal em 2019.

A falência da segurança é apenas uma das faces das falhas da governança pública brasileira. Educação e saúde são outros exemplo.

Qual será o “ippon” que o governo federal pretende dar a esses outros desafios? O Planalto não tem respostas para a nação.

Precisamos resolver o problema financeiro do governo federal, é óbvio; recursos são condição indispensá­vel para a manutenção de serviços públicos.

É uma aposta errada e fracassada em seu nascedouro, todavia, pretender como única política pública a criação de um inimigo comum para unir a população —neste caso, a criminalid­ade organizada—, esquecendo-se a própria e entranhada corrupção na política, uma criminalid­ade ainda mais organizada.

Tentativas semelhante­s de intervençõ­es militares contra inimigos comuns, como a Argentina nas Malvinas e os Estados Unidos no Vietnã, após o entusiasmo inicial despertado, resultaram no gosto amargo do revés político e militar. Não se pode enganar a todos o tempo todo. CARLOS FERNANDO DOS SANTOS LIMA

Se for para fazer intervençã­o militar no Rio de Janeiro, poder-se-ia aproveitar a ocasião e estendê-la para o combate ao crime em Brasília, inclusive na praça dos Três Poderes.

AERAMIZ ALVES

O decreto do presidente da República, Michel Temer, sobre as desordens no Rio de Janeiro lembra-me o início da ditadura.

LUIZ ERNESTO M. KAWALL

CNA E PT Embora o PT esteja distante do CNA, tanto por sua história como por sua atuação, deveria seguir o exemplo do partido da África do Sul (“Zuma renuncia à Presidênci­a da África do Sul acusado de corrupção”, “Mundo”, 15/2). Ou seja, dirigente corruto deve ser afastado, e não endeusado com uma versão de inocente e perseguido.

FERNANDO SOBRAL DA CRUZ

Etimologia Sensaciona­is as colocações sobre suceder e sucesso no texto de Noemi Jaffe (“Lógica do resultado faz esquecer que bem-sucedido é quem vive”, “Ilustrada”, 14/2). Deixou a vontade [de ler] sobre mais interpreta­ções e paradoxos.

SELMA FELDMAN,

Semáforos

da UFSC

Eleições O modo como o meio político mais tradiciona­l reagiu à mera possibilid­ade de candidatur­a de Luciano Huck me parece preocupant­e (“Huck reafirma que não vai se candidatar a presidente”, “Poder”, 16/2). Ele nem chegou a ser a minha primeira opção de voto, até porque nunca se anunciou pré-candidato, mas entendo que o simples descarte como opção eleitoral se deu de forma autoritári­a, antidemocr­ática e preservaci­onista da mesmice que reina na política e nos partidos.

MAURICIO RUDNER HUERTAS

Carnaval As escolas Beija-Flor, campeã do Carnaval do Rio, e Paraíso do Tuiuti, vice, tiveram como temas dos seus desfiles problemas socioeconô­micos do país. Chega de exclusão e má distribuiç­ão de renda. As eleições são em outubro, vamos todos participar.

PAULO ROBERTO GIRÃO LESSA

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