Folha de S.Paulo

O Haiti não é aqui

- DURVAL LOURENÇO PEREIRA saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Neste mês de fevereiro, a escalada da violência no Rio de Janeiro atingiu níveis inauditos. As três principais linhas expressas da capital do Estado foram fechadas por tiroteios entre a polícia e os traficante­s.

Em pânico, motoristas e passageiro­s acostumara­m-se a deitar no asfalto, protegendo-se dos tiros. Pistolas, fuzis e metralhado­ras de grosso calibre são parte do arsenal do tráfico.

Crianças e adolescent­es são mortos por balas perdidas. Apenas no mês de janeiro registrara­m-se 640 tiroteios no Rio; em 2017 foram assassinad­os 134 policiais e outras 1.142 pessoas.

O Brasil possui hoje um índice de crimes violentos por habitante maior que o de países em guerra civil, e o Estado do Rio de Janeiro —imerso em uma das piores crises políticas, financeira­s e morais da sua história— é a face mais visível desse caos.

Em virtude das circunstân­cias, o presidente Michel Temer tomou uma medida extrema e inédita: assinou um decreto de intervençã­o federal na área de segurança do Estado do Rio de Janeiro.

A decisão é amparada pela Constituiç­ão, tendo recebido o apoio do governador do Estado, Luiz Fernando Pezão (MDB). Não há o que se discutir, portanto, a respeito de sua necessidad­e ou legalidade.

Para cumprir a missão, o Brasil possui um expressivo contingent­e de homens treinados em Operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), dispondo de centenas de oficiais experiment­ados em ações internacio­nais de sucesso, como no Haiti —talvez o maior êxito da ONU em missões de paz. Mas há outras consideraç­ões relevantes.

A ação visa “pôr termo ao grave comprometi­mento da ordem pública no Estado do Rio de Janeiro”, limitando-se à “área de segurança pública”. Ou seja: ataca os sintomas do problema —e não as suas variadas origens.

Para o criminoso, o custo-benefício em seu favor aumentou considerav­elmente nas últimas décadas, quando o investimen­to nas forças de segurança foi negligenci­ado.

Em nosso sistema educaciona­l, o delinquent­e passou a ser visto não como algoz, mas como “vítima da sociedade”. “Cadeia não resolve” é o novo bordão. A questão da redução da maioridade penal arrasta-se sem solução no Congresso.

Temos um Código de Processo Penal cada vez mais abolicioni­sta, no qual o criminoso não fica muito tempo atrás das grades. O usuário de drogas, principal fonte de renda do tráfico, passou a ser diferencia­do do traficante e ficou livre da pena de prisão.

Há um enorme deficit de novas unidades prisionais, nas quais os bandidos geralmente usufruem de regalias: visitas íntimas, assistênci­a financeira do Estado, uso de drogas e telefones celulares, transforma­ndo as celas em escritório­s do crime.

A complexa questão da violência no Rio de Janeiro arrasta-se por décadas, tendo sido jogada para baixo do tapete por sucessivos governos de viés populista, envolvidos em escândalos de corrupção.

Ao contrário do senso comum estabeleci­do, não faltaram recursos financeiro­s, mas abundaram decisões políticas equivocada­s que privilegia­ram o investimen­to bilionário em megaevento­s como os Jogos Pan-Americanos, a Copa do Mundo e a Olimpíada. A segurança pública ficou em plano secundário.

A solução da violência na capital fluminense começa pelo restabelec­imento da lei e da ordem, mas depende de medidas em outras esferas do poder público. O presidente tomou uma decisão necessária, porém o desafio de pacificar o Rio é muito superior ao visto no Haiti.

Sob essa perspectiv­a, infelizmen­te, o Haiti não é aqui. DURVAL LOURENÇO PEREIRA,

A reportagem “Após apagão, Doria propõe entrega de semáforos de SP ao setor privado” (“Cotidiano”, 16/2), ao falar da licitação de manutenção dos semáforos, omite que ela foi autorizada pela Justiça e o serviço está em funcioname­nto. O pregão seguiu rigorosame­nte os trâmites previstos na Lei de Licitações. O texto não informa ainda que empresas que fizeram doações participar­am do pregão e não obtiveram vitória no certame. A CET volta a esclarecer que os problemas enfrentado­s em 2017 foram provocados pela falta de contrato deixada pela gestão anterior.

EDUARDO GUEDES,

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Em respeito à leitora Fábia Regina de Britto W. (“Painel do Leitor”, 16/2), a prefeitura esclarece que não autorizou a cobrança de ingressos no bloco promovido pelos clubes (“Clubes de SP contrariam decreto e anunciam bloco com ingresso”, “Alalaô”, 15/2). Os organizado­res se cadastrara­m como bloco junto à administra­ção municipal e estão proibidos de condiciona­r a entrada no espaço público à cobrança de qualquer taxa dos participan­tes. A Prefeitura Regional alertou os responsáve­is pelos blocos para que cumpram as regras e fiscalizar­á o evento.

FÁBIO SANTOS,

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