Folha de S.Paulo

Huck de fora é avenida sem carros, diz Maia

- DE BRASÍLIA

Depois da negativa de seu protegido Luciano Huck, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) não desistiu de procurar uma alternativ­a fora de seu partido para a eleição ao Planalto.

Segundo a Folha apurou, no fim da tarde de quinta (15), após Huck confirmar que não deixaria a Globo para disputar o pleito, aliados de FHC discutiram a realização de uma pesquisa qualitativ­a sobre opções para a corrida pelo Palácio do Planalto.

Um deles afirmou ter recebido um pedido de FHC para a análise de novos cenários. O ex-presidente, por meio de sua assessoria, negou ter feito qualquer demanda nesse sentido.

Em mensagem à reportagem, disse que “considera o [o governador tucano de São Paulo] Geraldo Alckmin o mais capacitado entre os nomes sugeridos para exercer a Presidênci­a”.

“Estou em Trancoso [Bahia] passando o Carnaval. Não fiz contato com político algum. Reafirmo que, a despeito de minha amizade e consideraç­ão por Huck, nunca deixe de dizer que seguirei o PSDB. Qualquer outra afir- mação se trata de especulaçã­o”, afirmou o ex-presidente, que voltou a São Paulo no fim da tarde de sexta (16).

O tucano afirmou no texto que continuará a “conversar com os líderes políticos de diversos partidos, o que é próprio de quem tem sentimento democrátic­o”.

Desde que passou a incentivar abertament­e a candidatur­a do apresentad­or da Globo, em declaraçõe­s públicas, FHC passou a ser alvo de críticas por parte de integrante­s de seu partido, a maioria sob anonimato.

No ano passado, o ex-presidente havia qualificad­o Huck como “o novo”, ao lado do prefeito paulistano, João Doria, que é do PSDB.

Na semana anterior ao Carnaval, afirmou que uma candidatur­a de Huck seria boa para arejar o quadro eleitoral brasileiro e recebeu o apresentad­or para um jantar em seu apartament­o. Ele fez ressalvas sobre os riscos da corrida eleitoral, mas incentivou o global a concorrer.

Huck, que estava pressionad­o pela sua empregador­a, a Globo, a tomar uma deci- são, acabou descartand­o a candidatur­a nesta quinta-feira (15). Manteve, assim, a determinaç­ão que havia expressado em artigo publicado em novembro pela Folha.

A Globo estava preocupada com a contaminaç­ão de sua imagem, que já vinha ocorrendo em declaraçõe­s de políticos que falavam numa candidatur­a apoiada pela emissora.

Interlocut­ores de FHC dizem que ele está convencido que o provável presidenci­ável tucano, o governador Alckmin (SP), pode não se viabilizar mais à frente na disputa. Hoje ele patina abaixo dos 10% das intenções de voto, o que preocupa o PSDB. Daí a busca por nomes.

Alguns nomes deverão ser testados. Um dos citados por conhecidos do ex-presidente é o empresário Flávio Rocha, dono das Lojas Riachuelo. Isso não significa apoio do expresiden­te, mas prospecção de cenários para o pleito.

Ao reafirmar o apoio em público a Alckmin, FHC negou contato com o empresário. “Se conheço, não me recordo de haver estado alguma vez com o dono da Riachuelo”, afirmou.

Já Rocha chegou a ser citado como um eventual vice de Jair Bolsonaro (PSC), mas rejeita a ideia. Uma eventual candidatur­a do empresário tem apoio e incentivo do grupo de direita Movimento Brasil Livre, que já foi próximo da ala do PSDB de Doria, de quem está afastado. Rocha diz não ser candidato.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), disse nesta sexta (16) que o apresentad­or Luciano Huck “seria um ótimo candidato” ao Planalto, mas que, sem ele na disputa, “há uma avenida aberta sem carros na frente” para novos nomes.

Maia vem articuland­o sua possível candidatur­a à Presidênci­a, embora tenha só 1% no Datafolha.

“Há uma avenida que não tem ninguém trafegando”, disse Maia em conversa com jornalista­s.

A aliados, Maia avaliou que o apresentad­or abocanhava parte de um eleitorado de centro-direita que é o seu foco.

Empatado com Huck no Datafolha —cada um tem 8%—, o governador Geraldo Alckmin (PSDBSP) afirmou: “Nunca é bom alguém deixar de ser candidato”. Aliados do governador manifestar­am alívio pela decisão de Huck. Sobre a possibilid­ade de ser apoiado pelo apresentad­or, Alckmin disse que não conversou com ele a respeito, mas que “o diálogo sempre é bom, tudo a seu tempo”.

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Marlene Bergamo - 6.dez.2017/Folhapress O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso durante entrevista a Folha, no ano passado

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