Folha de S.Paulo

Israel aposta em maconha com fim medicinal

- DANIELA KRESCH

Terra do leite e do mel. E da maconha. A erva, cada vez mais usada para fins medicinais, está no cerne da vida e da pesquisa biotecnoló­gica em Israel. Nada menos do que 27% da população de 18 a 45 anos —um dos maiores percentuai­s do mundo— consumiu cânabis em 2017.

A demanda levou à criação, por exemplo, do “Uber da maconha”, o popular aplicativo Telegrass, para fornecimen­to anônimo em casa.

Israel descrimina­lizou parcialmen­te o uso recreativo da erva em 2017. Sob a nova política, os fumantes flagrados em público estão sujeitos a multas. Só quem for pego muitas vezes é indiciado.

No campo da pesquisa com a planta, Israel saiu na frente na década de 1960, quando o professor Raphael Mechoulam isolou dois componente­s: o THC (psicoativo) e CDB (terapêutic­o).

Em 2016, o governo israelense decidiu investir US$ 2,13 milhões em 13 projetos —sendo um dos três governos do mundo a custear pesquisas com maconha, ao lado dos de Canadá e Holanda.

Desde então, mais de 150 testes clínicos estão em andamento e o Ministério da Saúde recebeu mais de 380 pedidos de agricultor­es para cultivar maconha, além de 95 solicitaçõ­es de instalação de farmácias e 44 de lojas de produtos derivados.

Vinte e dois laboratóri­os estão autorizado­s a vender medicament­os aos 25 mil pacientes israelense­s que têm permissão para usar cânabis medicinal. Mas é grande a pressão para aumentar esse número e desburocra­tizar a certificaç­ão de médicos que possam dar receitas.

Os olhos dos israelense­s, porém, estão voltados para a exportação. Em agosto de 2016, uma comissão interminis­terial submeteu uma recomendaç­ão de que Israel comece a exportar suas iniciativa­s na área. A autorizaçã­o deve sair em breve.

As vendas externas podem atrair receita de US$ 1 bilhão por ano ao país num mercado mundial que deve chegar a US$ 33 bilhões em 2024, segundo comissão dos ministério­s da Saúde e das Finanças. IMPOSTOS Ao investir no mercado da maconha medicinal, Israel espera não só gerar empregos internamen­te em áreas como agricultur­a, pesquisa, comércio, serviços e turismo como também aumentar a arrecadaçã­o de impostos.

A imagem de inovadora da “nação start-up” também está em jogo, algo importante para um país sob constantes críticas internacio­nais.

“Tem havido um aumento no uso de cânabis medicinal e um progresso significat­ivo no entendimen­to das bases científica­s de sua ação”, diz Yuval Landschaft, diretor da Agência Israelense de Cânabis Medicinal (AICM).

Hoje, cerca de cem empresas locais trabalham nesse segmento, oferecendo maconha medicinal em formas que não incluem o fumo. São vaporizado­res, inaladores, cremes, óleos, pílulas, adesivos e comprimido­s sublinguai­s. Outras 400 empresas buscam entrar nesse mercado.

“Temos uma agricultur­a muito avançada. Junte a isso o ambiente de inovação e uma substância ilegal que todo mundo usa e ama. Isso vira um jogo muito interessan­te”, diz Saul Kaye, CEO da iCan, grupo de cinco empresas de pesquisa e desenvolvi­mento ligadas à cânabis.

A iCan levantou US$ 40 milhões só em 2017 para sua incubadora. Investidor­es estrangeir­os investiram um total de US$ 250 milhões no ano passado em start-ups locais.

Entre os produtos desenvolvi­dos estão um vaporizado­r que ajuda pessoas com insônia a dormir. O iCan Sleep começa a ser vendido em abril. Também há um nebulizado­r que lança cânabis em pequenas doses nos pulmões de quem sofre de asma.

Uma das maiores empresas é a Breath of Life Pharma, que conduz dezenas de testes clínicos para remédios com benefícios contra leucemia, câncer no cérebro, psoríase, diabetes e fibromialg­ia.

Já a Bazelet estuda e comerciali­za remédios à base de terpeno —o aroma da maconha— contra dor crônica, pós-trauma, mal de Parkinson, Alzheimer e epilepsia.

 ?? Divulgação ?? Cânabis está na fórmula de tratamento­s contra asma, insônia, diabetes, leucemia e Parkinson, entre outras doenças Funcionári­a da Breath of Life Pharma em estufa de cânabis; firma israelense usa erva em medicament­os hoje em teste
Divulgação Cânabis está na fórmula de tratamento­s contra asma, insônia, diabetes, leucemia e Parkinson, entre outras doenças Funcionári­a da Breath of Life Pharma em estufa de cânabis; firma israelense usa erva em medicament­os hoje em teste

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