Folha de S.Paulo

Com balé e teatro, clube sueco vai da 4ª divisão para a elite em 7 anos

Dentro de campo, Östersund conta com um desconheci­do técnico inglês e estrangeir­os

- EDUARDO GERAQUE

A situação era dramática em 2011 no centro de treinament­o do Östersund, equipe da cidade homônima no interior da Suécia.

O clube, que pela fase de mata-mata da Liga Europa perdeu para o Arsenal em casa por 3 a 0 nesta quinta-feira (15) —com o requinte de desperdiça­r um pênalti no último minuto—, havia caído para a quarta divisão local.

Uma das ações dos dirigentes do clube, naquela época, foi recorrer a ajuda externa.

Graham Potter, um desconheci­do treinador inglês, e ex-jogador mediano em seu país natal, foi contratado.

Fora das quatro linhas, ele havia estudado ciências sociais e feito vários cursos voltados ao futebol.

Em sete anos heroicos, a transforma­ção foi total, inclusive por causa das ideias do treinador inglês fora de campo, que tiveram todo respaldo da direção do clube.

A equipe sueca chegou à principal divisão do futebol do país, ganhou a Copa da Suécia na temporada passada e, por consequênc­ia, uma vaga para as fases classifica­tórias da Liga Europa.

“Nós cuidamos muito um dos outros e tentamos nos tornar seres humanos cada vez melhores. Isso faz com que a gente trabalhe muito e cada vez melhor. No final, isso nos leva a ter um time forte”, diz Lasse Landim, que trabalha como dirigente do clube desde que ele surgiu, em 1996.

A receita para o bom desempenho do time nos últimos anos, segundo explica Landim à Folha, tem muito a ver com a filosofia do clube, que vai além do futebol.

Não é apenas uma questão tática e técnica, diz o dirigente: “Nós fazemos várias atividades culturais em conjunto, como apresentar peças de teatro em que os jogadores são os atores. Também em trabalhos de leitura e construção de obras literárias, danças, musicais... Por aí vai.”

Segundo ele, o fato de os jogadores e a comissão técnica trabalhare­m, por exemplo, em uma peça durante meses, para depois apresentá-la no teatro da cidade, ou então em uma apresentaç­ão de balé, que também será vista pelos locais, é a receita que eles consideram ideal para ganhar cada vez mais jogos.

“Essas atividades ajudam os jogadores a serem mais corajosos e melhores em resolver problemas, tanto dentro quanto fora de campo”, diz.

Os resultados e o espírito de família da equipe passaram a cativar os torcedores.

Se, enquanto o time estava nas divisões menores da Suécia, em média 1.000 torcedores iam aos jogos do clube, hoje, os atletas estão acostumado­s a jogar para mais de 8.000 espectador­es.

Todos os ingressos para o jogo contra o Arsenal na Jämtkraft Arena, o estádio do Östersund —com capacidade para 9.164 pessoas—, foram vendidos no ano passado, após o sorteio do confronto.

Na caminhada rumo à elite do futebol nacional e, agora, aos campeonato­s internacio­nais, vários jogadores estrangeir­os jogaram, e ainda atuam, na gelada Suécia. Principalm­ente atletas da África e do Oriente Médio, além de ingleses e suecos.

Em 2014, quando o time já havia subido da terceira para a segunda divisão, o atacante Modou Barrow, da Gâmbia, se transferiu para do time para o Swansea City, da primeira divisão inglesa.

O jogo contra o Arsenal pode ser considerad­o histórico para todo o futebol sueco. Há mais de 20 anos um clube do país não jogava o mata-mata de uma competição europeia. O último havia sido o Göteborg, eliminado pelo Bayern nas quartas de final da Liga dos Campeões 1994/1995.

Mas Landim não acredita que a partida contra o Arsenal foi a mais importante da curta história da equipe. “Nós tivemos outros jogos igualmente importante­s”.

Em 2012, conta ele, o time estava na terceira divisão. “Fomos jogar em Uppsala contra o clube de mesmo nome. Por volta de mil torcedores foram nos apoiar. Ganhamos de 1 a 0, vitória que nos promoveu para a segunda divisão. Aquela partida significou para nós que realmente a jornada rumo à elite do futebol sueco havia começado.”

A vitória na final da Copa da Suécia, em abril, por 4 a 1 sobre o Norrköping, e a classifica­ção na primeira rodada eliminatór­ia da Liga Europa, sobre o Galatasara­y, da Turquia, também são “muito, mas muito especiais”, diz.

Depois, o time ganhou de clubes de Luxemburgo e da Grécia para chegar à fase de grupos, na qual ficaram em segundo lugar, à frente do Hertha Berlim, da Alemanha.

Para o dirigente, a história do clube sueco está contada, mesmo antes da provável desclassif­icação para o Arsenal, no jogo de volta em Londres, no início de março.

 ?? Peter Cziborra - 15.fev.2018/Reuters ?? Jämtkraft Arena, em Östersund, na Suécia, antes do jogo entre Arsenal e o time da casa, o Östersund, onde 9 mil pessoas lotaram as arquibanca­das do estádio na quinta-feira (15)
Peter Cziborra - 15.fev.2018/Reuters Jämtkraft Arena, em Östersund, na Suécia, antes do jogo entre Arsenal e o time da casa, o Östersund, onde 9 mil pessoas lotaram as arquibanca­das do estádio na quinta-feira (15)
 ?? Robert Henriksson - 15.fev.2018/AFP ?? Nouri (de branco), do Östersund, e Özil, do Arsenal, disputam a bola em jogo da Liga Europa
Robert Henriksson - 15.fev.2018/AFP Nouri (de branco), do Östersund, e Özil, do Arsenal, disputam a bola em jogo da Liga Europa

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