Com balé e teatro, clube sueco vai da 4ª divisão para a elite em 7 anos
Dentro de campo, Östersund conta com um desconhecido técnico inglês e estrangeiros
A situação era dramática em 2011 no centro de treinamento do Östersund, equipe da cidade homônima no interior da Suécia.
O clube, que pela fase de mata-mata da Liga Europa perdeu para o Arsenal em casa por 3 a 0 nesta quinta-feira (15) —com o requinte de desperdiçar um pênalti no último minuto—, havia caído para a quarta divisão local.
Uma das ações dos dirigentes do clube, naquela época, foi recorrer a ajuda externa.
Graham Potter, um desconhecido treinador inglês, e ex-jogador mediano em seu país natal, foi contratado.
Fora das quatro linhas, ele havia estudado ciências sociais e feito vários cursos voltados ao futebol.
Em sete anos heroicos, a transformação foi total, inclusive por causa das ideias do treinador inglês fora de campo, que tiveram todo respaldo da direção do clube.
A equipe sueca chegou à principal divisão do futebol do país, ganhou a Copa da Suécia na temporada passada e, por consequência, uma vaga para as fases classificatórias da Liga Europa.
“Nós cuidamos muito um dos outros e tentamos nos tornar seres humanos cada vez melhores. Isso faz com que a gente trabalhe muito e cada vez melhor. No final, isso nos leva a ter um time forte”, diz Lasse Landim, que trabalha como dirigente do clube desde que ele surgiu, em 1996.
A receita para o bom desempenho do time nos últimos anos, segundo explica Landim à Folha, tem muito a ver com a filosofia do clube, que vai além do futebol.
Não é apenas uma questão tática e técnica, diz o dirigente: “Nós fazemos várias atividades culturais em conjunto, como apresentar peças de teatro em que os jogadores são os atores. Também em trabalhos de leitura e construção de obras literárias, danças, musicais... Por aí vai.”
Segundo ele, o fato de os jogadores e a comissão técnica trabalharem, por exemplo, em uma peça durante meses, para depois apresentá-la no teatro da cidade, ou então em uma apresentação de balé, que também será vista pelos locais, é a receita que eles consideram ideal para ganhar cada vez mais jogos.
“Essas atividades ajudam os jogadores a serem mais corajosos e melhores em resolver problemas, tanto dentro quanto fora de campo”, diz.
Os resultados e o espírito de família da equipe passaram a cativar os torcedores.
Se, enquanto o time estava nas divisões menores da Suécia, em média 1.000 torcedores iam aos jogos do clube, hoje, os atletas estão acostumados a jogar para mais de 8.000 espectadores.
Todos os ingressos para o jogo contra o Arsenal na Jämtkraft Arena, o estádio do Östersund —com capacidade para 9.164 pessoas—, foram vendidos no ano passado, após o sorteio do confronto.
Na caminhada rumo à elite do futebol nacional e, agora, aos campeonatos internacionais, vários jogadores estrangeiros jogaram, e ainda atuam, na gelada Suécia. Principalmente atletas da África e do Oriente Médio, além de ingleses e suecos.
Em 2014, quando o time já havia subido da terceira para a segunda divisão, o atacante Modou Barrow, da Gâmbia, se transferiu para do time para o Swansea City, da primeira divisão inglesa.
O jogo contra o Arsenal pode ser considerado histórico para todo o futebol sueco. Há mais de 20 anos um clube do país não jogava o mata-mata de uma competição europeia. O último havia sido o Göteborg, eliminado pelo Bayern nas quartas de final da Liga dos Campeões 1994/1995.
Mas Landim não acredita que a partida contra o Arsenal foi a mais importante da curta história da equipe. “Nós tivemos outros jogos igualmente importantes”.
Em 2012, conta ele, o time estava na terceira divisão. “Fomos jogar em Uppsala contra o clube de mesmo nome. Por volta de mil torcedores foram nos apoiar. Ganhamos de 1 a 0, vitória que nos promoveu para a segunda divisão. Aquela partida significou para nós que realmente a jornada rumo à elite do futebol sueco havia começado.”
A vitória na final da Copa da Suécia, em abril, por 4 a 1 sobre o Norrköping, e a classificação na primeira rodada eliminatória da Liga Europa, sobre o Galatasaray, da Turquia, também são “muito, mas muito especiais”, diz.
Depois, o time ganhou de clubes de Luxemburgo e da Grécia para chegar à fase de grupos, na qual ficaram em segundo lugar, à frente do Hertha Berlim, da Alemanha.
Para o dirigente, a história do clube sueco está contada, mesmo antes da provável desclassificação para o Arsenal, no jogo de volta em Londres, no início de março.