Folha de S.Paulo

Marketing da inseguranç­a

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BRASÍLIA - Michel Temer puxou a fila de candidatos que devem pegar carona nos tanques do Exército para ganhar pontos na campanha eleitoral deste ano. A violência nas capitais e a entrada do governo federal no ramo da segurança pública têm potencial para fazer com que o tema assuma o papel-chave tradiciona­lmente ocupado pela economia nas disputas presidenci­ais.

Ao anunciar a intervençã­o no Rio para combater o crime organizado, o governo joga o assunto no centro das próximas eleições —promovido de uma discussão anódina sobre o controle de fronteiras para um debate concreto sobre o combate à violência nas grandes cidades.

Não é coincidênc­ia que Temer e o presidente­daCâmara,RodrigoMai­a (DEM), tenham decidido apostar suas fichas na segurança e enterrar a reforma da Previdênci­a —prioritári­a para a recuperaçã­o econômica. Driblaram, assim, Henrique Meirelles (Fazenda),queficouse­mplataform­a emaislonge­dacorridap­residencia­l.

A atuação do governo federal na segurança pública é um tema relevante e encontrará terreno fértil para candidatos dispostos a cultivar um discurso de medo na campanha.

Pesquisa feita pelo Datafolha na cidade do Rio em outubro constatou que 90% dos cariocas se sentem inseguros nas ruas da cidade à noite e 79% têm receio de andar em seus próprios bairros nesses horários.

É inevitável que essa sensação tenha peso significat­ivo para o eleitor na hora de votar para presidente, o que pode transforma­r a eleição deste ano em um concurso de propostas excessivam­ente duras (e potencialm­ente irresponsá­veis ou ineficient­es) para atacar o problema.

O discurso de Temer ao anunciar a intervençã­o revela como o medo pode ser explorado no jogo eleitoral.Opresident­eadotouumt­omaustero para dizer que o governo reagiria a criminosos que “sequestram o povo das nossas cidades”. Foi incapaz de detalhar como isso será feito, mas cumpriu seu objetivo político.

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