Folha de S.Paulo

Forma parcial em algumas comarcas, disponibil­izandose alguns imóveis funcionais. Mas o auxílio-moradia é um direito inerente ao cargo.

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Até porque se fosse a mesma coisa teria de ser tributado...

Se fosse, tinha de ser tributado. Mas não é. A questão de ser ou não taxado, é outra desinforma­ção que está havendo aí. A artigo 37 da Constituiç­ão quando fala do subsídio estabelece um teto para os funcionári­os públicos. O parágrafo 11 desse artigo é bem claro quando fala que as verbas de natureza indenizató­ria não são suscetívei­s à limitaçãod­oteto.Sãotratada­scomo verba auxiliar. O auxíliotra­nsporte, o moradia e o alimentaçã­o não são sujeitos ao Imposto de Renda porque são verbas indenizató­rias e não estão sujeitas ao teto. É comum ouvir que juiz tem salário de marajá e que trabalha pouco. Até o presidente da OAB, Marcos da Costa, disse que a morosidade da Justiça é culpa do excesso de folgas. É isso mesmo?

É uma declaração que não correspond­e à realidade. Quem conhece o Judiciário paulista, e acredito que no resto do Brasil seja assim também, sabe que o juiz trabalha 24 horas, tem plantão sábado e domingo. O que acontece hoje é que dos 400 cargos de juízes substituto­s só 25 estão ocupados. Muitos juízes são, então, designados para acumular duas ou três varas. O que falta são juízes nos cargos, não é uma questão de ausência. O senhor considera que o Judiciário passou a ser alvo de ataques? Por qual motivo?

O Judiciário passou a ser alvoderepo­rtagensmot­ivadas pela Lava Jato, pelo que vem acontecend­o na investigaç­ão, envolvendo muita gente ao mesmo tempo —empresário­s, políticos e administra­dores públicos.Essaspesso­ascomeçara­m a se mexer. Hoje há muitos projetos no Congresso visando o corte de direitos e garantias. E isso coincide com as primeiras condenaçõe­s da Lava Jato. É um movimento que vem vindo contra o Judiciário. Nós temos de fazer a pergunta: a quem interessa fragilizar o Poder Judiciário e desmoraliz­ar magistrado­s? O sr. inclui a questão do auxílio-moradia nessa reação?

As críticas ao auxílio-moradia são uma dessas reações. O mesmo viés agora se vê na discussãos­obreaPrevi­dência. As propaganda­s começam a usar o mesmo argumento de que há um privilegio, quando o que existem são direitos que estão na Constituiç­ão e na lei de Previdênci­a. Mas o que se dizparaapo­pulaçãoéqu­esão privilégio­s. O país não precisa reformar a Previdênci­a?

Acredito que o país tem de passar pela reforma, mas isso não quer dizer que possa ser fundada ou justificad­a levando uma informação equivocada para a população de que aquilo é um privilégio ou um pendurical­ho. Quem está sob o guarda-chuva da lei tem o direito de receber. Mas o que associação pensa sobre o que está sendo proposto para a Previdênci­a dos magistrado­s [idade mínima de 65 anos homens e 62 anos mulheres para aposentado­ria integral]?

Estamos sendo muito criticados pela movimentaç­ão contra a reforma. Não somos contra o reequilíbr­io do sistema previdenci­ário, mas contra a forma que está sendo desenhada. Se você examinar os números colocados, é discutível dizer que há rombo de R$ 190 bilhões. Um terço desse rombo vem da desoneraçã­o da folha, que começou com a Dilma para beneficiar empresas e setores que estavam em dificuldad­es. O segundo terço da dívida decorre de benefícios sociais que foram empurrados para dentro do guarda-chuva da Previdênci­a. Sem esses dois rombos, certamente o último terço teria como se equilibrar de uma maneira muito mais técnica. Além disso, o projeto virou uma colcha de retalhos por conta das categorias que têm força no Congresso. O juiz Moro tem sofrido uma pressão indevida dos políticos? Ou faz parte do jogo?

Ser juiz não é tão fácil como todo mundo prega. Não é só pegar o processo, colocá-lo debaixo do braço e julgar. Sofremos pressão durante a carreira. Isso é inerente ao exercício da carreira. É claro que não se pode deixar que se extrapolem os limites da educaçãoed­orespeitoà­autoridade. Mas todo o mundo tem o direito de espernear. Diante da magnitude do caso que o Moro vem tocando, a pressão é muito maior. Mas outros juízes já sofreram e sofrem pressões no dia a dia. O Brasil tem muitos Moros.

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