Centro de luxo reabre feridas em Hamburgo
Plano de transformar em complexo comercial a antiga sede da Gestapo, polícia secreta nazista, enfurece ativistas
Após pressão popular, incorporadora aumenta área de homenagem e convida população para debater opções
A construção, no centro de Hamburgo, de um complexo luxuoso de lojas, apartamentos e hotéis mexeu numa ferida histórica dessa cidade do norte da Alemanha.
A incorporadora Quantum Imobilium adquiriu da prefeitura o Stadthöfe, um conjunto de quatro pátios históricos e oito edifícios de 100 mil m² do final do século 19, com planos de fazer uma ultrarrenovação.
De 1933 a 1943, parte do complexo foi a sede local da Gestapo, a polícia secreta nazista, que a usava para prisões e torturas e de onde milhares foram enviados para campos de concentração.
Nos portões, ainda permanece a grade de ferro que convidacom“Bienvenue”(“bemvindo”)e“MoinMoin”(“olá”, no dialeto alemão do norte) —para muitos, algo tão arrepiante quanto o “Arbeit macht frei” (“O trabalho liberta”) dos campos.
Parentes de vítimas e ativistas reagiram ao projeto. Acham que a área destinada à memória das vítimas é mínima e desrespeitosa: um espaço dentro de um café, dentro de uma livraria.
“O Stadthöfe foi o local central do terror e da perseguição do Terceiro Reich não só para Hamburgo mas para toda a área que hoje é o Estado de Schleswig-Holstein. Numerosas vítimas foram brutalmente perseguidas aí —judeus, ciganos, homossexuais, sociais-democratas, comunistas, oposicionistas, grupos de igreja, os chamados ‘antissociais’, enfim, todos os que eram diferentes do nacional-socialismo”, disse à Folha Wolfgang Kopitzsch, presidente da Associação de Sociais-DemocratasPerseguidos e Presos pelo Nazismo.
“Houve aí interrogatórios, torturas e assassinatos que precisam ser lembrados e que necessitam do espaço e do equipamento correspondente no memorial. Devemos isso às vítimas e à memória!”
“Hamburgo ainda não tem um memorial adequado sobre o terror do Reich e a história de resistência. O atual crescimento da direita e de grupos e partidos extremistas de direita, como a AfD [Alternativa para a Alemanha, que entrou no Parlamento em setembro], também exige um fortalecimento decisivo da cultura da memória em Hamburgo”, acrescentou.
Quando o projeto foi aprovado pela prefeitura em 2009, a recomendação era que uma