Folha de S.Paulo

EUA não são país para crianças

- C L ÓVIS R O SSI COLUNISTA SD A SEMANA segunda: Mathias Alencastro, quinta: Clóvis Rossi, domingo: Clóvis Rossi

OS EUA —esse formidável ímã para brasileiro­s e para uma multidão de outros— são, não obstante, “a mais perigosa das nações ricas para uma criança nascer”.

É o que informa estudo recente da publicação “Assuntos de Saúde”, citado com amargura por David Leonhardt, o editor da “newsletter” de Opinião do “New York Times”: “É difícil imaginar uma distinção pior para um país”.

É óbvio que a mais recente matança em escola americana, na quartafeir­a (14), tornou mais sinistra ainda a “distinção” aos EUA. Mas é justo mencionar que esse fenômeno tipicament­e americano é apenas um dos três fatores que levaram os EUA a se tornarem um país que não é para crianças, a saber:

1 - Os outros países ricos foram mais bem sucedidos em reduzir a mortalidad­e infantil, por motivos que ainda não são plenamente conhecidos, mas, diz Leohnardt, “a desequilib­rada mortes em acidentes com veículos, que afetam especialme­nte adolescent­es.

3 - Aqui, sim, entra “o ritual tipicament­e americano de matança de crianças em santuários do aprendizad­o”, como o definiu outro colunista do “Times”, Dan Barry.

Fiquemos no item 3 porque há uma permanente tentação no Brasil de liberar a posse indiscrimi­nada de armas, ainda mais agora lugar nas intenções de voto.

No caso dos Estados Unidos, surpreende que um país tão ilustrado, sede de universida­des e centros de pesquisas de excelência, não consiga ligar os pontos e entender que a obsessão pelas armas é uma causa evidente do “ritual tipicament­e americano de matanças de crianças” —e, de quebra, de mundial, os EUA têm 50% das armas de fogo em mãos de civis.

“A única variável que pode explicar a alta taxa de tiroteios em massa na América é o seu astronômic­o número de revólveres”, escreve Max Fisher, titular de uma coluna que contextual­iza grandes eventos mundiais, sempre no “Times”.

Fischer dá números para sustentar seu contexto: “Os Estados Unidos têm 270 milhões de armas e tiveram 90 tiroteios em massa de 1966 a 2012. Nenhum outro país tem mais do que 46 milhões de armas ou mais de 18 tiroteios em massa”.

É evidente que o Brasil tampouco da ordem —o que se pretende fazer com a intervençã­o federal no Rio.

Suspeito que só dará certo se, simultanea­mente, se começar a discutir a questão das drogas porque a política simplesmen­te repressiva fracassou, do que dá prova definitiva a intervençã­o no Rio.

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