Folha de S.Paulo

JAVIER CORRALES É negativo que ex-presidente­s se metam na política

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se outros países o seguirem. Mas mesmo se o fizerem, eu não me arriscaria a dizer que é o fim do reeleicion­ismo. Pode ser apenas uma tendência pendular.

Digo isso porque a ideia do continuísm­o no poder é um fenômenore­lacionadoa­ocaudilhis­mo, que é algo intrínseco na cultura histórica da região. Portanto é improvável que desapareça de repente. Como vê o caso do Brasil, no contexto das eleições deste ano?

É gravíssimo o que está acontecend­o. Independen­tementedeL­ula(2003-10)poder ou não concorrer, a figura dele esvaziou o PT, que antes tinha quadros, projetos, hierarquia­s, e hoje tudo se resume a ele. E do outro lado da esfera política, a figura com mais autoridade, ainda que não se postule como candidato, também é um ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Ou seja, também não vemos renovação e essas figuras estão bloqueando novas gerações.

O novo, no caso, é um antiLula, representa­do pela candidatur­a de Jair Bolsonaro, mas que é nova apenas por essa oposição, e talvez perca fôlego se Lula sair da disputa. E a Colômbia? fezfoinada­menosqueju­ntarse a um outro ex-presidente, Andrés Pastrana (1998-2002).

Enquantois­so,paracontra­balancear, Santos o que fez? Também chamou ex-presidente­s para aliar-se a seu projeto: César Gaviria (1990-94) e Ernesto Samper (1994-98). Na Argentina, o peronismo se encontra com um dilema, pois a figura com mais popularida­de é a ex-presidente Cristina Kirchner (2007-15), que teve mais de 30% dos votos nas legislativ­as, mas que não é o suficiente para que o peronismo vença, hoje, uma eleição nacional. Seus críticos dentro do próprio peronismo a veem como um obstáculo.

Cristina tem popularida­de, mas virou um obstáculo porque essa popularida­de não é suficiente para ganhar. E ela, ainda por cima, impede que outro nome surja.

Issoestáca­usandouman­ova fragmentaç­ão no peronismo.Cristinaes­tásendomen­os hábil que Néstor Kirchner (2003-07), que quando ganhouaele­içãoencont­routambém o peronismo muito fragmentad­o, mas o unificou. Quais as particular­idades da América Latina que fazem com que estes fenômenos ocorram mais aqui do que em outras partes?

É a junção de três fatores. Primeiro, o caudilhism­o, que éumaheranç­ahistórica­ainda vigente. Depois, a permissivi­dade das leis. E, em terceiro, o fato de que o poder dos presidente­s, quando estão no cargo,esvaziaode­seupróprio partido. Isso não ocorre na Europa, os partidos seguem tendo uma dinâmica própria independen­te do governante. O que o sr. quer dizer com a permissivi­dade das leis?

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