Folha de S.Paulo

Mano a mano

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O DEPARTAMEN­TO de análise de desempenho da CBF tem uma jogada separada que ilustra bem o que se quer na Copa do Mundo. No amistoso contra a Inglaterra, empate por 0 a 0 em novembro, houve poucas chances concretas de gol. Uma delas não virou nem sequer chute à meta do goleiro Hart.

O Brasil puxou contra-ataque com Paulinho e a bola chegou a Neymar frente à frente com o lateral Joe Gomez. O craque brasileiro tentou o drible, mas puxou a bola para o lado de dentro e, sem ângulo, recuou para Marcelo. A instrução é outra. A seleção trabalha para deixar Neymar em condição de drible. Quando perceber que está um contra um, a recomendaç­ão na Copa do Mundo será: vai você!

Neymar não foi o craque que pensamos na partida de ida das oitavas de final da Liga dos Campeões contra o Real Madrid. No duelo Mas tem o jogo de volta.

Decidir numa jogada individual, atualmente, é mais difícil do que era há 28 anos, quando Maradona dominou a bola na intermediá­ria e levou três marcadores antes de deixar Caniggia frente a frente com Taffarel. Ou quando Garrincha enfileirav­a Gérson e Jordan, na final do Campeonato Carioca de 1962, com o Canhotinha em início de carreira escalado para marcar Mané, com o lateral esquerdo

O espaço para o drible era maior. Não porque o Maracanã tinha 110 m x 75 m e agora tem 105 m x 68 m, mas porque os jogadores corriam 5 km e hoje percorrem mais de 10 km por jogo —Toni Kroos fez 13 km no jogo do Real Madrid contra o Paris Saint-Germain, na quarta (15).

Mais quilômetro­s percorrido­s significam mais aproximaçã­o de três defensores para marcar o mais criativo atacante adversário. Neymar vai ter sempre dois ou três pela frente, Cláudio Mortari dizia há três décadas que o futebol ficaria parecido com o basquete. Ficou.

A imagem de Neymar no departamen­to de análise de desempenho no lance de Brasil x Inglaterra indica que é preciso atrair a defesa adversária para um lado e virar o lado da jogada para tentar deixar o maior talento com, no máximo, um marcador. No mano a mano, ele resolve.

Michael Jordan resolveu jogos como a final da NBA de 1998 contra o Utah Jazz numa jogada individual. Coisa de gênio. Messi e Cristiano também podem fazer. Idem Neymar.

Mas o que Tite propõe é criar a condição de deixar o craque no um contra um. Na mesma decisão da NBA de 1998, definida por Michael Recebeu o passe quando estava sem marcação. Três pontos!

O jornalista Jonathan Wilson, autor de “A Pirâmide Invertida”, diz que o Brasil não é só técnica e sempre houve tática nas jogadas ofensivas. A diminuição de espaço exige esse trabalho mais ainda.

Tite quer que o drible decida a Copa. Para isso, trabalha para deixar os craques no mano a mano.

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