Astrid volta com programa em aeroporto
Apresentadora retoma “Chegas e Partidas” em março, pescando histórias reais em embarques e desembarques
Última temporada foi em 2015; em gravações em novembro, mulher casada topou falar sobre chegada do amante
A apresentadora Astrid Fontenelle não consegue mais dissociar sua passagem por aeroportos do trabalho realizadono“ChegadasePartidas” —programa que volta à grade do canal GNT para sua sexta temporada após ficar fora do ar em 2016 e 2017.
Mesmo nesse período de pausa, em viagens pessoais, ela observava os passantes com os olhos clínicos que desenvolveu nas gravações anteriores. O programa foi criado para flagrar reencontros e despedidas. Registra a emoção tanto de quem chega quando daqueles que recebem de volta; também de quem vai e de quem fica.
Até o filho de nove anos de Astrid pegou o vício. “Em qualquer aeroporto, se vê uma cena, ele fala ‘olha lá, mamãe, olha lá, mamãe’”, conta. “Parece que o olho vai direto para a flor e os cartazes de boas-vindas”, diz.
Astrid comenta que essa combinação (da flor com o cartaz) é um clássico em qualquer aeroporto do mundo. Em geral, as rosas são vermelhas. Mais raramente, aparecem as brancas. Em uma temporada anterior do programa, porém, ela flagrou um homem com dálias e, por causa da diferença, achou “que ele era gay”. E estava certa.
A Folha acompanhou Astrid, em novembro, em um dia de gravação da nova temporada, no aeroporto de Gua- rulhos. Ela foi acompanhada de uma equipe de dez pessoas, maquiadores, operadores de câmera e áudio e produtores, dois deles com a incumbência de ir a campo antes de Astrid entrar em cena para pescar, bem rapidinho, as histórias mais palpitantes. DE LÁ PRA CÁ Nos deslocamentos da equipe, Astrid andou de cadeira de rodas para não acabar o dia “exausta”.
A apresentadora, conhecida por ter composto o time inauguraldeVJsdoextintocanal da MTV no Brasil, levantava-se de dez em dez minutos com abordagem dos fãs.
A equipe enfim chegou ao setor de desembarque de voos internacionais. Na hora de fisgar entrevistados, poucas recusas. Há aqueles que inclusive se aproximam da produção espontaneamente, contando situações dramáticas de viagem, na intenção de serem filmados.
Na contramão, uma menina que voltava de uma tentativa frustrada de trabalho na Espanha fez cara feia para o namorado quando descobriu que ele havia topado contar a história na telinha. “É, às vezes acontece”, diz Astrid.
A apresentadora responde que as cenas, ao contrário do quesepossaimaginar,nãosão teatralizadasapósosentrevistados concordarem em aparecer; a simpatia é que os desarma.“Chegodeumjeitonapessoa que ela vai achar que a gente é amiga de infância.”
O que acontece, às vezes, é o sujeito dar sinal positivo na pré-entrevista e, quando a câmera liga, ele recua. Uma mulher casada que esperava um amante, conta Astrid, “achou que aparecer na televisão” poderia “até ser legal”.
“Estava um frio da porra, eu com um casaco e blusa de lã, e a mulher pelada.” Ela usa a palavra “pelada” metaforicamente para falar de seus “ombros descobertos”. “Estava toda ‘pá’”, conclui.
Antes de a câmera aparecer, a tal mulher “contou sua história inteira”: que largaria o marido e que, até o programa ir ao ar, “tudo já teria se resolvido”. “A gente perguntava ‘tem certeza?’. E, quando cheguei com a câmera, ela amarelou. Gaguejava. Eu disse: ‘Calma, se você não quiser, a gente não vai’.”
No fim das contas, a mulher e o amante deram entrevista para a nova temporada.
Com a experiência de fazer abordagens no calor do momento, Astrid também ganhou a percepção de que o aeroporto “reflete um momento da sociedade”.
“Neste ano, a gente está vendo muita gente com formação universitária indo embora do país por conta do desemprego”, conta.
“A gente teve um momento, não lembro se foi Lula ou Dilma, em que o Brasil estava bombando com o projeto do ProUni, de investimento em universidades no exterior; direto a gente encontrava gente indo estudar por conta do governo, gente de baixa renda, saindo com a possibilidade de estudar fora.”
O aeroporto, conclui a apresentadora, se revelou como um campo de expansão das emoções. “É ali que a pessoa ganha a coragem para dizer ‘eu te amo’”, considera.
Um diretor do GNT, prossegue a apresentadora, disse que sua equipe deveria acompanhar entrevistados até suas casas. “Mas tenho certeza absoluta que, na Marginal, o amor ia se esvair pela janela do carro.” A vida volta rapidinho ao normal, ela conclui, com um sorriso no rosto. NA TV Chegadas e Partidas estreia em 7/3; sempre às qua., às 22h30, no GNT