Folha de S.Paulo

Carros precisam de renovação Automóveis incapazes de proteger seus ocupantes em colisões circulam na contramão da modernidad­e

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HÁ TEMAS que são tabu no conjunto de regulament­ações de trânsito no Brasil. Falar em renovação da frota é como cercear o direito de ir e vir de quem não pode adquirir um automóvel atual. A grita também é geral quando se fala em restringir a circulação de veículos de carga em períodos de grande movimento nas rodovias, como os feriados.

O problema ocorre quando os mundos se cruzam: carros e caminhões mal conservado­s dividindo espaço no tráfego congestion­ado.

O resultado aparece em estatístic­as: 103 mortos em acidentes nas estradas no período do Carnaval, entre sexta (9) e quarta (14), com 1.524 feridos. Os dados são da Polícia Rodoviária Federal.

Houve queda de 31% no número de óbitos em relação a 2017, fato que, apesar do alívio, não dá motivos para comemoraçõ­es.

Caso as evoluções propostas há mais de 20 anos, época em que o atual Código de Trânsito Brasileiro entrou em vigor, tivessem se tornado realidade, a quantidade de vítimas seria certamente menor.

A idade média da frota de caminhões é superior a 10 anos, segundo a ANTT (Agência Nacional de Transporte­s Terrestres) e o Sindipeças. São veículos com milhões de quilômetro­s rodados e manutenção nem sempre em dia.

Carros incapazes de proteger ocupantes em colisões circulam na contramão da modernidad­e. Muitos donos teriam interesse em se livrar desses veículos caso lhes fossem oferecidos benefícios para adquirir um modelo mais novo, mesmo que seja um usado em melhores condições.

Mas as propostas de renovação não seguem adiante, sempre preteridas nos incentivos governamen­tais ou nos pedidos de socorro feito pelas montadoras em crise.

Com as novas exigências de segurança e redução de emissões de poluentes que devem surgir com o programa Rota 2030, é o momento de retornar ao tema, sem medo de chamar carro velho de sucata. A legislação que virá e a retomada nas vendas precisam gerar também um ciclo de renovação mais amplo que a simples troca de um carro seminovo por um zero-quilômetro. MARCIO RACHKORSKY escreve na próxima edição

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