Redes sociais inspiram novos cuidados éticos
Qual é o jeito certo de se aproximar de alguém para obter informação? Como lidar com interesses sorrateiros por trás de uma notícia? Quando se torna legítimo revelar aspectos da vida privada de personalidade pública?
Na atividade jornalística, sempre foi grande o número de perguntas para as quais não existem respostas prontas. Com o ambiente de hipe- rexposição das redes sociais, a lista de decisões sujeitas a controvérsia só aumentou.
Que tipo de opinião um jornalista pode postar? Quais os limites para a exposição da própria intimidade no mundo digital? Como compartilhar conteúdos alheios?
Versões anteriores do “Manual da Redação” da Folha, desde 1984, já reuniam orientações para ajudar o jornalista a encontrar as melhores soluções a cada dilema ético.
Na nova edição, o tema ganhou ainda mais destaque com um capítulo específico (“Conduta”), no qual, pela primeira vez, o jornal apresenta um guia para o comportamento nas redes sociais.
As diretrizes ali estabelecidas partem do princípio de que a credibilidade é o maior patrimônio do jornalismo. Assim, um veículo de comunicação como a Folha deve procurar assegurar a atuação íntegra de seus profissionais.
Como resume o “Manual”: “É legítimo que se levantem questionamentos toda vez que o comportamento do jornal ou de seus profissionais pareça proteger interesses outros que não os dos leitores”.
Daí, por exemplo, a regra geral segundo a qual o jornalista não pode oferecer valores ou favores pessoais em troca de informação, assim como não pode aceitar valores ou favores pessoais para publicar ou omitir notícia.
O capítulo ainda agrega orientações para a relação com entrevistados e com o leitor, lista os direitos da fonte de informação e do personagem da notícia, fixa parâmetros para o jornalista aceitar ou declinar convites e estabelece fronteiras sobre conflitos de interesse, entre outros casos.
Todas as balizas éticas que guiam os profissionais da Folha no ambiente offline também se aplicam online. A constante mutação do universo digital, porém, faz com que, além das regras gerais, sejam necessárias diretrizes específicas para redes sociais.
Algumas delas são dicas de bom comportamento; por sua natureza, interessam a profissionais de diversas áreas, e não só a jornalistas.
É o caso, por exemplo, da sugestão para assumir que todo conteúdo postado na internet é público, nunca desa- parece e pode ser descontextualizado com facilidade.
Diga-se o mesmo da afirmação: “Nas redes sociais, a imagem pessoal tende a se misturar com a profissional”.
Para jornalistas, a orientação vai além: “Parcela do público pode pôr em dúvida a isenção daquele que, na internet, manifesta opiniões sobre assuntos direta ou indiretamente associados a sua área de cobertura”.
O capítulo também tem regras mais impositivas, como o veto à divulgação de bastidores da Redação por parte dos jornalistas da Folha.
Em tempos de polêmicas acirradas na internet, não poderia faltar uma regra para proibir que jornalistas da Folha destratem quem quer que seja ou se envolvam em discussões inflamadas com leitores, sobretudo nas seções de comentários e redes sociais.