Novas tecnologias aceleram vendas no comércio eletrônico
Reconhecimento de imagem, pagamento via selfie e assistentes virtuais já estão por aí
Facilidades estimulam consumo desenfreado, que não depende mais de computador ou de vitrine física ou virtual
Inovações tecnológicas em curso permitirão em breve que as compras on-line sejam feitas a qualquer hora e em qualquer lugar, de forma quase automática.
“O e-commerce se flexibilizou, começa a existir uma venda que é a mistura do digital com o físico”, diz Luciana Stein, pesquisadora de tendências da TrendWatching. “As pessoas não vão mais comprar na frente da tela do computador.”
Uma das novidades é a compra por meio de reconhecimento de imagem. Isso permitirá ao consumidor, por exemplo, apontar o celular para algo desejado, obter todas as informações a respeito e comprar naquele mesmo momento um objeto igual ao que chamou sua atenção, tenha sido ele visto na rua, com um desconhecido, ou na vitrine de uma loja, diz Stein.
A tecnologia de reconhecimento também deverá ser usada para identificar o rosto do comprador e facilitar as transações. Em vez de o consumidor perder tempo com a digitação de dados, poderá comprar a partir de uma selfie. Esse mecanismo já é usado hoje, por exemplo, para o check-in em voos da Gol.
O pagamento mais automatizado, contudo, pode levar a pessoa a comprar quase que sem sentir —uma experiência já vivida por quem usa aplicativos de transporte como Uber e Cabify.
“Você poderá sair de um estabelecimento sem pagar no caixa, já que o produto será cobrado de forma automática”, afirma a pesquisadora da TrendWatching.
A solução é prática, mas vai estimular ainda mais o consumo desenfreado. Para Stein, com o tempo, algumas empresas deverão optar por seguir na contramão da tendência, desautomatizando o processo “para que o consumidor volte a sentir o peso social, financeiro e ambiental da compra que faz”.
A sofisticação de bancos de dados com informações sobre clientes é outra tendência para o comércio eletrônico, diz Gabriel Lima, presidente da Enext, empresa de consultoria de e-commerce do grupo WPP.
A ficha mais completa vai incluir dos últimos itens comprados pela pessoa às lojas em que ela esteve. Com isso, o site consegue sugerir ofertas adequadas e, na loja física, o atendente é capaz de personalizar o atendimento.
“O papel do vendedor está mudando. Deixa de ser um cara que pega o produto no estoque para assumir uma postura de consultor”, diz Lima. “O eletrônico não acabará com o varejo físico, os dois universos vão conversar.”
Quem quiser ficar só no ambiente on-line poderá contar com assistentes virtuais exclusivos, disponíveis 24 horas por dia para ajudar os internautas, segundo Stein.
Para além de itens palpáveis, a venda de conhecimento e serviços a distância também deve ganhar espaço nos próximos anos, diz Diego Smorigo, do Sebrae-SP. Videoaulas e consultoria on-line são alguns exemplos.
Outra tendência são canais de streaming voltados exclusivamente para venda, aponta Stein. Por meio deles, influenciadores digitais anunciam produtos, espécie de “ligue já” elaborado, misturando conteúdo e propaganda.
Hoje, o setor de moda e acessórios lidera a posição no ranking de comércio on-line, representando 14,8% das vendas, de acordo com o relatório Webshoppers, feito pelo Ebit, que pesquisa o mercado virtual.
É seguido pelas categorias de saúde e cosméticos (12,2%), casa e decoração (10,6%), eletrodomésticos (10,3%) e telefonia (9,5%).
Em volume de faturamento, telefonia (22,3%) e eletrodomésticos (18,8%) lideram.
O faturamento no setor de compras on-line deve crescer de 12% a 15% em 2018, fechando o ano com cerca de R$ 58 bilhões, segundo estimativa da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, associação que promove a economia digital.
No primeiro semestre de 2017, chegou a R$ 21 bilhões, crescimento de 7,5% em relação ao ano anterior, de acordo com o Webshoppers.
“O brasileiro está perdendo o medo de comprar pela internet e, agora, também adquire produtos mais caros”, afirma Smorigo, do Sebrae. “É um bom momento para quem pretende investir no comércio on-line.”