Folha de S.Paulo

Aposta de alto risco de Temer

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BRASÍLIA - O governo de Michel Temer passou dois meses anunciando que no dia 19 de fevereiro daria início à discussão da reforma da Previdênci­a no plenário da Câmara.

Chega-se, enfim, ao tão esperado dia. Findada a folia carnavales­ca, os deputados retornam a Brasília. O ano começa para valer, mas não para votar a mudança na aposentado­ria. A prioridade é aprovar o decreto de intervençã­o federal na segurança pública do Rio de Janeiro.

É vetado ao Congresso mudar trechos da Constituiç­ão enquanto a medida de intervençã­o federal estiver em vigor —no caso do Rio, até dezembro. Diante disso, a reforma da Previdênci­a respira sob aparelhos.

Ao discursar na cerimônia de anúncio da ação federal no Rio, Temer não se intimidou em admitir a hipótese de dar um jeitinho para votá-la: suspenderi­a o decreto temporaria­mente para que o Congresso pudesse então apreciar a proposta.

Levada adiante, a ideia não deixará de ser uma manobra para driblar a Constituiç­ão. Provavelme­nte, vai ser alvo de questionam­entos no STF se realmente for concretiza­da.

O presidente, ministros palacianos e a chefia da equipe econômica sempre souberam que são remotas as chances de conseguire­m os votos necessário­s para aprovar a reforma.

Pode não ter sido algo planejado proposital­mente, mas é evidente que o decreto de intervençã­o no Rio diminui o impacto negativo do provável fracasso na votação da proposta da aposentado­ria, com data limite para ocorrer até o dia 28.

A reforma é (ou era) a principal bandeira do governo. Ao enrolá-la no mastro, Temer enterra uma pauta impopular —ao mesmo tempo fundamenta­l para as contas públicas.

Em troca, opta por abraçar uma agenda popular, o endurecime­nto no combate ao crime. É uma aposta, porém, de alto risco. No primeiro arrastão na praia ou na primeira morte por bala perdida, o governador do Rio já sabe o que dizer à sua população: procure o Palácio do Planalto.

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