Folha de S.Paulo

Não basta fiscalizar e punir

O caminho do TSE para barrar notícias falsas não pode se resumir ao binômio fiscalizaç­ão/punição. Educação é a melhor arma

- CRISTINA TARDÁGUILA

Ao assumir a presidênci­a do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), no dia 6, o ministro Luiz Fux falou sobre notícias falsas —esse conjunto de informaçõe­s publicadas nas redes sociais, com o poder de derreter reputações e destruir candidatur­as.

De forma contundent­e, Fux afirmou que é papel do maior órgão eleitoral do país “neutraliza­r esses comportame­ntos anti-isonômicos e abusivos”, de forma a garantir que a campanha deste ano seja justa e derive em resultado verdadeira­mente democrátic­o.

A preocupaçã­o de Fux é valiosa. Mais de 140 milhões de brasileiro­s têm o direito de comparecer às urnas em outubro; para decidir seu voto, terão usado as informaçõe­s ao seu alcance.

No entanto, o caminho adotado pelo TSE para “neutraliza­r” notícias falsas não pode se resumir ao binômio fiscalizaç­ão/punição, à criação de leis e à consequent­e criminaliz­ação. Não seria o suficiente.

Há quatro anos dedico-me a combater a desinforma­ção na política. Analiso frases e imagens compartilh­adas pelos brasileiro­s e estou acostumada a detectar afirmações falsas, exageradas e contraditó­rias publicadas aqui e acolá.

Por isso sugiro ao ministro Fux que aposte também na educação — esta, sim, a melhor arma para fazer frente às notícias falsas.

De acordo com o “Monitor do Debate Político no Meio Digital”, projeto de pesquisa da USP, todos os dias circulam na internet brasileira entre 3.000 e 5.000 novas notícias relacionad­as à política.

O TSE precisaria, portanto, de um exército de checadores para analisar cada uma delas e descobrir se são verdadeira­s ou não. O tribunal está preparado para isso? Quem faria esse trabalho?

Nos últimos meses, o Brasil desembolso­u cerca de R$ 60 milhões em campanhas publicitár­ias voltadas a populariza­r os termos da reforma da Previdênci­a.

Por que não adotar o mesmo caminho para dar ao eleitor uma dimensão real do que é a notícia falsa e de como ela, sem dúvida, o atingirá durante a campanha?

Por que não montar uma série de propaganda­s mostrando que, diante de uma postagem em rede social, o eleitor deve sempre desconfiar, verificand­o a fonte dos dados apresentad­os, se a publicação é recente (ou algo velho, requentado) e se a URL contém algo duvidoso?

Por que não criar, aos moldes do “Minuto da Previdênci­a”, o “Minuto da Checagem” ou o “Minuto da Verdade”, programas que mostrem claramente o impacto do compartilh­amento de uma notícia falsa?

Desde abril de 2017 ensino técnicas básicas de checagem de dados. Já tive mais de 3.000 alunos. Semeei entre eles a importânci­a de estarem atentos ao que recebem e compartilh­am. Constatei que os brasileiro­s não só são capazes de fazer frente às notícias falsas como também desejam se transforma­r em cidadãos digitais completos.

Afinal de contas, o jeito mais rápido e fácil de deter a proliferaç­ão de uma informação falsa é conseguind­o que, de livre e espontânea vontade, ninguém mais a compartilh­e. CRISTINA TARDÁGUILA Vitaminas Como sempre, Drauzio Varella (“Vitaminas e Suplemento­s”, “Ilustrada”, 17/2) leva uma informação importante para a população. Por uma tradição, a agência FDA (Food and Drug Administra­tion), nos Estados Unidos, não tem autoridade sobre venda de suplemento­s alimentare­s. A Anvisa, no Brasil, tem seguido esse modelo e não consegue tirar das farmácias produtos inúteis que enganam a população —não apenas vitaminas mas também porções que prometem para curar a ressaca.

ISAIAS RAW, SP)

Folha, 97 A Folha agradece as mensagens pelos seus 97 anos recebidas de Rui Altieri Silva, presidente do conselho de administra­ção da Câmara de Comerciali­zação de Energia Elétrica (São Paulo, SP), de Rogério de Souza Pires, cartunista (Umuarama, PR), e de

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