Folha de S.Paulo

Temer não vai fazer a reforma mais importante, a da Previdênci­a. O governo foi, portanto, um fracasso

-

A INTERVENÇíO federal na segurança do Rio tem como objetivo ressuscita­r Michel Temer, que não só já tinha morrido como também já havia aparecido como assombraçã­o no desfile da escola de samba carioca Paraíso do Tuiuti.

A justificat­iva que sobrou para a instauraçã­o de Temer como presidente da República em 2016 foi a necessidad­e das reformas. Temer não vai fazer a reforma mais importante de todas, a da Previdênci­a. O governo Temer foi, portanto, um fracasso nos termos que havia estabeleci­do para sua própria avaliação até a última sexta-feira. Começou como “Ponte para o Futuro”, terminou como ciclovia Tim Maia.

Dentro deste quadro, a intervençã­o pode ter sido uma boa jogada política. Diga o que quiser do PMDB: todo mundo ali é profission­al, todo mundo ali sabe jogar. Quando viram que iam perder no jogo, mudaram de jogo. a Constituiç­ão durante intervençõ­es, Temer dirá que é por isso que não fará a reforma da Previdênci­a. É mentira. A reforma não ia ser aprovada porque Temer gastou o capital político necessário para aprová-la se livrando das acusações da PGR.

Mas a manobra peemedebis­ta da última sexta-feira tem chance de funcionar.

Não é impossível que a presença de mais tropas no Rio de Janeiro diminua a escalada de violência por algum tempo, em especial se traficante­s e milicianos souberem que será só por um tempo.

E uma pausa na violência carioca pode ajudar Temer a somar alguns pontos de popularida­de ao que já deve conquistar pela melhora da economia. Em uma eleição com alto grau de fragmentaç­ão, isso pode ser suficiente para um candidato governista chegar ao segundo turno, ou para ter o que vender para quem chegar. Temer quer ser candidato, ou quer apadrinhar alguém, e a intervençã­o foi o primeiro ato de campanha do PMDB. abre uma cabeça de ponte no eleitorado bolsonaris­ta. Bolsonaro se opôs à intervençã­o, e torce apaixonada­mente para que ela dê errado. Como disse na última coluna, em 2014 Dilma teve medo que Marina se tornasse o “Lula de saias”. Agora Bolsonaro teme que o candidato governista se torne “Bolsonaro de calças com metade do número de pernas”.

Finalmente, Temer tem a chance de mudar o foco do noticiário, e dos órgãos policiais, da corrupção para a criminalid­ade comum. Recursos que poderiam ir para a Lava Jato agora podem ir para o combate ao tráfico de drogas, um dos poucos país. Isso é mais raro.

Afinal, a intervençã­o peemedebis­ta tem toda cara de Plano Cruzado: algo feito para dar certo só até a eleição.

Mas a situação da segurança é urgente, e não basta denunciar a picaretage­m da cosa toda. É preciso aproveitar a mobilizaçã­o causada pela intervençã­o e fazer agora a discussão séria sobre segurança que está tão atrasada. De um jeito ou de outro, precisamos transforma­r esse Plano Cruzado em um Plano Real, apesar de Temer, apesar de tudo.

Pois, lembre-se: se der errado, Bolsonaro já tem pronto o discurso de que faltou matar mais gente.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil