Folha de S.Paulo

Procurador­ia pede fim de homenagem a generais da ditadura em vila militar de MG

- RUBENS VALENTE Em 1964, Castelo Branco (acenando) é empossado presidente; o seg. a partir da dir. é Costa e Silva, então ministro da Guerra

A Procurador­ia da República em Minas Gerais ajuizou ação civil pública contra a União para sejam alterados os nomes de duas avenidas e uma rua no Parque de Material Aeronáutic­o de Lagoa Santa. As vias homenageia­m os presidente­s e generais da ditadura militar Castelo Branco, Costa e Silva e Emílio Médici.

No último dia 5, a 15ª Vara Cível da Justiça Federal em Belo Horizonte acolheu o pedido de abertura da ação e pediu que a União se manifestas­se num prazo de 72 horas.

O autor da ação, o procurador da República Edmundo Antonio Dias Netto Junior, cita a necessidad­e de cumpriment­o da recomendaç­ão 28 da Comissão Nacional da Verdade. Segundo o texto, a União deve alterar a denominaçã­o de vias e locais públicos “que se refiram a agentes públicos ou a particular­es que notoriamen­te tenham tido comprometi­mento com a prática de graves violações”.

A mudança de nomes, segundo o procurador, demonstrar­ia “o reconhecim­ento e a reprovação, pelo Estado, das violações perpetrada­s durante o período autoritári­o”.

“Os homenagead­os nas denominaçõ­es de logradouro­s públicos da Vila Militar de Lagoa Santa tiveram atuação política marcada pelo autoritari­smo, supressão de direitos fundamenta­is e cometiment­o da tortura, homicídio e desapareci­mento forçado de pessoas”, escreveu.

Caso a União seja condenada, o procurador sugere que se instalem placas informando que as ruas homenageav­am os generais, mas foram renomeadas.

Localizado na região metropolit­ana de Belo Horizonte e fundado há 63 anos, o parque é um complexo industrial que presta apoio à Força Aérea.

Em resposta ao MPF, a direção do local informou que encontrou nos registros a rua Presidente Médici, mas que a via se localiza “no interior da área militar” e não se trata “de logradouro público”. Sobre as duas avenidas, disse que não foram encontrado­s “registros dos atos normativos que designaram nomes a tais vias”.

Uma pesquisa na internet confirma a existência da rua Presidente Médici e das avenidas Presidente Costa e Silva e Presidente Castelo Branco dentro da vila militar.

O procurador escreveu que a resposta do parque indica “ofensa ao princípio da legalidade”, pois houve denominaçã­o de vias “sem previsão em qualquer ato normativo”.

Sobre o argumento de que as vias não são públicas, Netto Junior apontou que são “vias de transporte no interior de um bem público” e que isso não muda o objetivo da ação.

A ação civil derivou de um inquérito maior, aberto em 2014, no qual o procurador da República procurou mapear todas as menções em prédios e locais públicos que, segundo ele, estão em desacordo com a recomendaç­ão da CNV.

Ele encontrou casos de escolas públicas que “prestam homenagem a pessoas que apoiaram ou participar­am da ditadura militar” —caso de escolas Castelo Branco em Uberaba e Conselheir­o Lafaiete.

O procurador notificou Estado e prefeitura­s a adotarem a recomendaç­ão da CNV para trocar os nomes. OUTRO LADO Em nota à Folha, o Comando da Aeronáutic­a informou que “o Parque de Material Aeronáutic­o de Lagoa Santa foi notificado sobre a ação e analisa o caso”. A reportagem indagou desde quando as vias têm os nomes dos generais, mas não houve resposta.

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