Folha de S.Paulo

Sobreviven­tes de massacre nos EUA lideram protestos contra armas

Estudantes da escola onde 17 foram mortos por atirador organizam marcha em Washington

- NELSON DE SÁ

Depois de críticas em TVs e nas redes sociais, Casa Branca diz que Trump vai se reunir com alunos da Flórida

Alunos da escola na Flórida onde 17 pessoas morreram em um atentado a tiros disseram neste domingo (18) que vão organizar uma marcha pelo controle da venda de armas e tentar criar uma “marca da vergonha” para políticos que recebem recursos da NRA (Associação Nacional do Rifle) e de outros grupos próarmas dos Estados Unidos.

“Estamos perdendo as nossas vidas enquanto os adultos estão brincando”, disse Cameron Kasky em programa de televisão da rede CNN.

A fala do aluno da escola Marjory Stoneman Douglas em Parkland, que tem 3.000 estudantes, é parte da onda de indignação vinda de sobreviven­tes do massacre e de suas famílias, muitos dos quais culpam o presidente Donald Trump e políticos que recebem dinheiro da NRA.

O ex-aluno Nikolas Cruz, 19, matou 17 pessoas na escola Stoneman Douglas na quarta-feira (14), usando um fuzil de estilo militar AR-15.

No sábado (17), houve protestos em cidades da Flórida como Fort Lauderdale, pedindo endurecime­nto das leis de controle de vendas de armas. No domingo, diversos alunos que sobreviver­am ao massacre deram entrevista­s em programas de televisão nos EUA.

“Estamos pedindo por nossas vidas, isso não diz respeito ao Partido Republican­o nem aos democratas. Isso diz respeito a criar uma marca da vergonha para políticos que aceitam dinheiro da NRA e nos usam como efeito colateral”, afirmou Kasky.

Uma porta-voz da NRA não quis comentar.

Kasky e outros alunos dizem que estão organizand­o a “Marcha por nossas vidas” na capital Washington e em grandes cidades dos EUA no dia 24 de março para pedir ação contra a violência por armas de fogo.

A Rede de Educação Pública, grupo que defende as escolas públicas no país, anunciou um dia de protestos e eventos em 20 de abril, dia do aniversári­o do ataque a tiros na escola Columbine, no Colorado, em que 13 pessoas foram mortas em 1999. oportunida­de de ficarem do lado certo”, disse ela.

Os jovens evidenciam que terão como alvo os congressis­tas que tentarão se reeleger nas eleições deste ano. “Quase não há tempo para eles salvarem sua própria pele. E, se não mudarem de opinião agora e mostrarem seu apoio a esse movimento, eles vão ficar para trás, porque ou você está conosco ou está contra nós”, disse Gonzalez.

Trump tuitou neste domingo que não era “aceitável” que o FBI não tivesse conseguido impedir o massacre em Parkland, a 70 km ao norte de Miami, argumentan­do que o órgão estava muito focado na questão da Rússia (leia texto nesta página).

O tuíte do presidente também foi criticado por alunos sobreviven­tes do massacre.

Carly Novell, que se escondeu em um armário por duas horas durante o ataque na escola, respondeu com indignação a Trump: “Sabe o que não é aceitável? Culpar todos menos o atirador e a falta de controle para a venda de armas no nosso país. Você culpou até os alunos. Nós o denunciamo­s [o atirador, que foi expulso do colégio por questões disciplina­res]. Nós tentamos”, disse a jovem.

Nesta semana, o Departamen­to de Justiça dos EUA indiciou 13 russos por suspeita de interferir­em na eleição americana de 2016. O inquérito, conduzido pelo FBI, investiga a influência russa na disputa que elegeu Donald Trump como presidente.

De acordo com a investigaç­ão liderada pelo procurador Robert Mueller, a intenção dos russos era espalhar informaçõe­s falsas sobre as eleições por meio de perfis fraudulent­os.

O indiciamen­to diz que os russos adotaram identidade­s falsas on-line para passar mensagens de divisão e participar­am de comícios políticos posando de norte-americanos, entre outras acusações.

O indiciamen­to não diz, porém, se alguém da campanha de Trump coordenou os esforços ou trabalhou com os russos.

Até agora, o Departamen­to de Justiça afirma que não é possível concluir que a interferên­cia tenha alterado o resultado da eleição. A Rússia tem negado as acusações, assim como Trump.

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Protesto pelo controle da venda de armas em Fort Lauderdale, na Flórida, cidade próxima de Parkland, onde 17 morreram em massacre em escola
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Rhona Wise/AFP Emma Gonzalez, que quer debates sobre controle de armas

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