ANDREAS SCHLEICHER, 54 Investimento em educação no Brasil é baixo e ineficiente
DIRETOR EDUCACIONAL DA OCDE DIZ QUE PAÍSES QUE TIVERAM SUCESSO EM EDUCAÇÃO ELEGERAM A ÁREA COMO PRIORIDADE NOS GASTOS
Folha - É verdade que após cada edição do Pisa seu time analisa os resultados de cada país, sem seus respectivos nomes, tentando adivinhar quem é quem?
Andreas Schleicher - Sim, no último exame, conseguimos prever mais de 85% das diferenças entre escolas. Alguns países se reinventaram por meio de reformas sistemáticas e investimentos. Os alunos de 15 anos entre os 10% mais pobres do Vietnã têm ido tão bem no Pisa quanto os 10% mais ricos no Brasil. Pobreza não é destino. O Brasil melhorou nos anos iniciais do Pisa em matemática, mas está estagnado desde 2006. Nosso desempenho em leitura e ciências também não é bom. O que nos impede de melhorar?
Ainda vejo o Brasil como uma das poucas histórias de sucesso na América Latina, e eu acho que o copo está mais para metade cheio do que para metade vazio. Entre 2003 e 2015, o Brasil adicionou 500 mil alunos, ao reduzir as barreiras que mantinham uma grande proporção de adolescentes fora das escolas. Conforme as populações excluídas ganham acesso a níveis mais avançados de escolaridade, uma proporção maior de alunos com baixo desempenho será incluída nas amostras do Pisa, levando a uma subestimação das melhoras reais do sistema educacional.
Mas há outros fatores também. Todos os países na ÍberoAmérica são caracterizados por altos níveis de repetência. No Brasil, mais de um em cinco estudantes informaram ter repetido uma série na escola primária. As pesquisas têm mostrado que isso tem efeitos negativos sobre o desempenho acadêmico. Até que ponto a inclusão desses novos alunos explica o desempenho recente do Brasil?
A amostra brasileira se tornou mais representativa, mas as notas mínimas recebidas pelos jovens que estão entre os 25% com melhor desempenho aumentaram cerca de dez pontos a cada período de três anos. Mesmo quando olhamos uma amostra maior de alunos, o desempenho em matemática melhorou ao longo dos anos e os resultados em leitura e ciências permaneceram estáveis. Mas muito mais precisa ser feito em termos de qualidade e equidade para ajudar a aumentar a nota média em que o Brasil parece estar firmemente ancorado. Há divergências sobre o patamar de investimento em educação no Brasil. Alguns argumentam que ele é insuficiente, pois o gasto por aluno é baixo. Outros ressaltam que nosso gasto como fatia do PIB per capita ultrapassou a média da OCDE. Que indicador Há algo que o Brasil possa copiar de países como Cingapura, Canadá e Finlândia, que consistentemente conseguem bons resultados?
As experiências não são facilmente transplantáveis. Os países ibero-americanos poderiam ganhar muito aprendendo com as mudanças que esses países têm feito. Os sistemas ibero-americanos precisam aumentar as expectativas dos alunos sobre seu bemestar e suas perspectivas futuras. As escolas podem ajudar fornecendo aconselhamento acadêmico e profissional para todos os alunos. Sistemas como o de Cingapura têm desenvolvido esse tipo de política.
Em segundo lugar, os professores