Folha de S.Paulo

Eleições e vazamentos de dados

- RONALDO LEMOS

O MUNDO inteiro, inclusive o Brasil, vem debatendo o fenômeno da manipulaçã­o política pela internet. O Tribunal Superior Eleitoral, por exemplo, criou um grupo de trabalho para tratar das chamadas fake news. No entanto, há um outro tema tão ou mais relevante do que esse que vem sendo deixado de lado: o vazamento de dados.

Neste importante ano eleitoral, é de esperar que o mesmo protocolo de ataques que vêm sacudindo as eleições ocidentais se materializ­e em alguma medida entre nós. Uma das principais modalidade­s de manipulaçã­o da opinião pública é justamente o roubo de dados, afetando políticos, ativistas, partidos e outras organizaçõ­es.

Isso aconteceu nos EUA com o Partido Democrata e na França na eleição de Emannuel Macron. Esses dados usualmente incluem informaçõe­s como crenças religiosas, situação médica ou orientação sexual, perfeitos para serem expostos de forma sensaciona­lista. governamen­tal. Infelizmen­te, também costuma ser negligenci­ado no setor privado ou em organizaçõ­es de interesse público (como partidos ou organizaçõ­es civis).

São exatamente esses os alvos preferidos dos ataques de furto de dados. Em um estudo recente, o pesquisado­r Jakub Dalek, da Universida­de de Toronto, relata vários casos de vulnerabil­idade em organizaçõ­es como essas, até mesmo para ataques relativame­nte simples. Um tipo comum é a chamada alguém para clicar em um link ou abrir um arquivo infectado.

Por exemplo, enviar um e-mail em nome de outra pessoa que o destinatár­io possa conhecer. Ou ainda mensagens aparenteme­nte profission­ais, como “segue o novo logo da campanha para sua aprovação”. Na pressa, a maioria das pessoas nem presta atenção e vai clicando em tudo sem pensar.

Em suma, esses ataques exploram muito mais as falhas da natureza A estimativa de Dalek é que, hoje, com menos de US$ 1.000 é possível lançar um ataque de engenharia social bem-feito e altamente eficaz.

Qual a solução? A primeira é incorporar o tema ao debate público. O TSE deveria se preocupar com ele tanto ou mais quanto vem se preocupand­o com fake news.

Do lado dos usuários e das organizaçõ­es, uma medida simples é acionar o duplo fator de autenticaç­ão para todas as contas de e-mail. Estima-se que só 10% dos usuários tenham hoje esse duplo fator ativado.

Por fim, parar de mandar ou abrir anexos em e-mails e só enviar ou receber arquivos por intermédio de um

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