Antecipar pagamento é atrativo para loja
Emissores de cartão esperam reduzir custo do crédito ao adiantar depósito das transações para os comerciantes
Analistas, no entanto, questionam se varejo repassaria para o consumidor os ganhos com a antecipação
A contrapartida para convencer comerciantes a trocar a opção mais popular pelo crediário com juros é a antecipação do pagamento do crédito aos lojistas, o que reduziria a necessidade da linha de antecipação de recebíveis.
Hoje, eles recebem em 30 dias. A ideia é reduzir para um prazo entre dois e cinco dias.
A expectativa do setor é que esse custo menor seja repassado ao consumidor sob a forma de produtos mais baratos. Mas os especialistas questionam se esse repasse, de fato, será feito.
“Os lojistas vão argumentar que não estavam embu- tindo juros, que o preço era aquele mesmo. Não vamos ver essa redução ao consumidor, e o consumidor, se quiser parcelar, vai ter que pagar muito mais”, afirma Juliana Inhasz, professora do Insper.
Livia Coelho, representante da Proteste, diz que o repasse de custo menor deve ser determinado por resolução. “Se ficar em aberto, o consumidor estará à mercê do fornecedor.” Ela critica o fato de os órgãos de defesa do consumidor não terem sido convidados a participar das discussões.
A adoção do crediário por lojistas também não é consenso. Roque Pellizzaro Junior, do SPC Brasil, administrado pela CNDL (Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas), diz que os comerciantes dificilmente deixarão de oferecer o parcelado sem juros só pela perspectiva de antecipação do pagamento.
“O consumidor vai acabar optando pelo parcelado sem juros. Você não tem condiçõesdefazercomqueoconsumidor aceite esse crediário, o benefício é muito pequeno”, diz. “A concorrência entre lojistas é alta. Basta que a loja ao lado continue vendendo em dez vezes sem juros para roubar minha clientela.”
A CNDL se reúne nesta terça (20) com o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, para discutir o tema e pedir para participar das discussões. NOVA OPÇÃO Para Ricardo Vieira, diretor da Abecs (associação das empresas de cartões de crédito), a proposta de criar um crediário é positiva, pois dá ao consumidor uma nova opção de pagamento.
Segundo ele, o próprio comerciante ajudará a explicar ao consumidor a nova modalidade de pagamento. A estimativa é que a alternativa es- teja disponível no fim deste ano ou no início do próximo.
Para Juliana Inhasz, do Insper, a longo prazo, as mudanças podem melhorar a educação financeira do consumidor. Ela questiona, no entanto, se o impacto será significativo.
“Não existe parcelamento sem juros, as pessoas precisam saber disso. Mas daí a achar que elas vão tomar decisões mais conscientes a partir do novo crediário é um passo muito longo.”
Ione Amorim, economista do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), diz que a nova proposta implica uma mudança de comportamento que pode levar tempo para o consumidor entender. “Por muito tempo, ele foi estimulado a usar o parcelado sem juros”, afirma.
“Quem deve estar temeroso é o próprio mercado, porque as pessoas podem deixar de consumir”, diz. (DANIELLE BRANT E ANAÏS FERNANDES)