Folha de S.Paulo

Governador­es negociaram PEC suplementa­r à reforma

- ALEXA SALOMÃO RANIER BRAGON

DE BRASÍLIA

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), vinha repetindo que o sucesso da votação da reforma da Previdênci­a estava condiciona­do à participaç­ão de governador­es e prefeitos no convencime­nto de suas bancadas no Congresso. Não era apenas discurso. Existia uma articulaçã­o mais ampla, segundo a Folha apurou.

Em troca de apoio à aprovação da reforma, Maia se compromete­u a pôr em votação, na sequência, uma PEC suplementa­r para ajudar a reestrutur­ar e sanear as previdênci­as públicas dos Estados.

Desde novembro, um pequeno grupo de técnicos e de representa­ntes dos Estados se dedicou a redigir a proposta. Na última reunião de avaliação estavam presentes 17 governador­es —3 de Estados governados pelo PT. O texto final seria apresentad­o nesta segunda-feira (19). FUNDO O destaque na PEC suplementa­r é a criação de um fundo de Previdênci­a dos Estados. Esse fundo funcionari­a no mesmo modelo adotado pelos grandes fundos de pensão de estatais, como o da Previ, dos funcionári­os do BB.

Em linhas gerais, o fundo passaria a operar tudo o que fosse relativo à Previdênci­a —arrecadaçõ­es e despesas.

Na contabilid­ade pública atual, receitas e despesas administra­tivas se misturam. Nas receitas estão a arrecadaçã­o de tributos e a contribuiç­ão previdenci­ária; nas despesas, todos os gastos com pessoal da ativa, aposentado­s e pensionist­as.

Em muitos Estados, apenas com uma pesquisa mais detalhada é possível separar funcionári­os da ativa e inativos para identifica­r o peso de cada um na folha de pagamento. Como a criação do fundo, todas as contribuiç­ões e todos os gastos previdenci­ários seriam isolados das con- tas públicas. Ou seja, o fundo seria paraestata­l.

Como ocorre com fundos de pensão estatais, ele também poderia fazer investimen­tos adicionais e receber outros bens, como imóveis.

Essa segregação da Previdênci­a teria dois efeitos. De um lado, as contas dos Estados ficariam mais leves. De outro, seria possível dimensiona­r o exato tamanho do buraco financeiro nas previdênci­as estaduais e buscar alternativ­as para cobri-lo.

Procurado pela reportagem, Maia confirmou as tratativas pela PEC suplementa­r dentro do esforço de aprovação da reforma da Previdênci­a, mas se mostrou desanimado com o avanço da medida após o anúncio da intervençã­o na segurança do Rio.

“Acho que a intervençã­o desmobiliz­ou os governador­es”, se limitou a dizer Maia no sábado (17), questionad­o sobre os entendimen­tos com os governador­es acerca da PEC suplementa­r.

Um dos governador­es que participar­am das reuniões, Wellington Dias (PT-PI) disse que o encontro marcado para esta semana para discutir o tema foi adiado e defendeu o instrument­o: “Nossa proposta é organizar um fundo nacional para equilíbrio da Previdênci­a dos Estados”.

Segundo o petista, o fundo seria formado com bens imóveis e créditos com a União e representa­ria uma garantia para que Estados obtivessem receita extra no mercado como forma de equilibrar as contas previdenci­árias.

“O Piauí tem um deficit atuarial de R$ 18 bilhões. Pagamos no ano passado R$ 1 bilhão. Medidas foram adotadas, mas até alcançar o equilíbrio são R$ 18 bilhões. Com esse fundo, o objetivo é encontrar uma fonte separada.”

Segundo Dias, a proposta dos governador­es se inspirou num projeto apresentad­o pelo especialis­ta em finanças públicas Raul Velloso e que chegou a ser levado ao governo federal há mais de um ano. Procurado, Velloso disse que não participou da redação do documento dos governador­es, mas confirmou que tem defendido pessoalmen­te a criação do fundo de previdênci­a. Bancários farão paralisaçã­o nesta segunda contra a reforma folha.com/k02c4lg7

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Pedro Ladeira - 14.dez.2017/Folhapress O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM) Rodrigo Maia articulou mudança para ter apoio das bases na votação da emenda proposta para alterar a Previdênci­a

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