Folha de S.Paulo

O dinheiro guardado é seu, para ser usado por você ou em sua companhia, unindo o útil ao agradável

- COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Benjamin Steinbruch; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Pedro Luiz Passos; sábado: Rodrigo Zeidan; domingo: Samuel Pessôa

ENFIM, APOSENTADO! E agora, o que fazer com aquele dinheiro guardado? Poupar para as necessidad­es que o futuro incerto nos reserva ou desfrutar a vida e gastar tudo? Esse é o dilema de quem acumulou dinheiro durante a vida ativa, com muito trabalho e determinaç­ão de poupar para, um dia, viver de renda.

Mas, quando esse momento chega, ainda temos muitos anos pela frente. Sabemos quanto dinheiro temos, mas não quanto tempo vamos viver. Nossa condição de saúde é incerta, e, apesar de todos os esforços de manter uma vida saudável, é difícil prever o que vem pela frente.

Se nos deixarmos abater pelo cenário de incerteza, se dermos poder ao medo de não sermos capazes de nos manter na velhice, se quisermos afastar a possibilid­ade de depender financeira­mente dos filhos, abriremos mão de viver a vida e ficaremos chocando o dinheiro guardado. Decisão prudente, mas muito elevado o preço a pagar. E não é de dinheiro que estou falando...

Se, por outro lado, decidirmos que chegou a hora de viver a vida, fazer um monte de coisa da qual nos privamos enquanto trabalháva­mos muito e criávamos os filhos, vamos sair pelo mundo gastando até o último centavo. Felicidade garantida enquanto o dinheiro durar. Os herdeiros preocupado­s porque nesse ritmo de gastança não vai sobrar nada para eles e, pior, talvez tenham que bancar os pais na velhice.

Nem 8 nem 80. O ideal é o cenário intermediá­rio, equilibrad­o, de desfrutar a vida, ser financeira­mente autossufic­iente, proporcion­ar alegria eprazerpar­asimesmoe,porquenão?, aos entes queridos. Será que é possível fazer as duas coisas —preservar e desfrutar— ao mesmo tempo?

Carlos tem 72 anos, é leitor assíduo da Folha e está vivendo muito bem sua aposentado­ria. Ele pratica o que chama de “Herança Antecipada”. Tem dois filhos, muito bem casados. As noras ele adjetivou de “maravilhos­as”. Um neto e duas netas, de 11, 7 e 5 anos, completam a família feliz.

Todos os anos ele planeja uma viagem em família. A harmonia entre eles, a idade das crianças e a situação financeira de Carlos permitem e viabilizam a viagem. Já foram conhecer a Disney e, no ano passado, levou a neta para patinar no Central Park, em Nova York.

Viagens culturais estão sendo planejadas, um cruzeiro pelos países nórdicos, uma viagem à Europa e outra à Ásia, para conhecer novas culturas, algumas milenares, tradições e artes distintas das nossas, jovem país de pouco mais de 500 anos. Muita história e sabedoria para absorver.

Não é o máximo? Ele desfruta a vida viajando, coisa que ele adora fazer e está sempre bem acompanhad­o. A família desfruta também, porque a generosida­de de Carlos permite que eles antecipem experiênci­as que não poderiam ter, não agora. A prioridade dos pais (filhos de Carlos) é educar os filhos, e todo o dinheiro disponível está sendo canalizado para essa importante prioridade.

Os filhos (e noras) são gratos pelo presente. Os netos devem achar que o avô é o cara mais legal do mundo e certamente vão se lembrar dele com muito carinho e gratidão.

Carlos, celebra a vida na companhia das pessoas que mais ama. É previdente e não gasta mais do que a renda proporcion­ada pelo patrimônio acumulado. Dessa forma, garante que os recursos não se esgotam, não totalmente, garantindo sua autossufic­iência.

Herança antecipada, é assim que Carlos denomina a estratégia que permite unir o útil ao agradável. Além de desfrutar a vida, viabiliza transferir aos herdeiros parte dos recursos aos quais eles só teriam acesso depois de sua morte. Muito melhor desfrutar em vida, na companhia de filhos e netos!

O procedimen­to formal de herança pode ser longo e caro. Honorários advocatíci­os e o ITCMD (Imposto sobre Transmissã­o de Herança e Doação) são calculados sobre o patrimônio objeto do inventário. Ao gastar parte dos recursos patrocinan­do as viagens em família, reduzimos o patrimônio líquido a ser inventaria­do e, portanto, as despesas relativas ao processo de sucessão.

A tática da “herança antecipada” aumenta a felicidade e o bemestar de quem proporcion­a financeira­mente a experiênci­a, transforma sonhos em projetos de vida, beneficia e amplia a convivênci­a familiar e ainda permite reduzir custos futuros. Um bom exemplo de felicidade que o dinheiro pode comprar. MARCIA DESSEN, marcia.dessen@gmail.com

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Fernando de Almeida

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