Folha de S.Paulo

Crime veta Correios em quase metade do Rio

Quatro em cada 10 endereços da cidade têm restrição de entrega; em mais da metade deles, é necessária escolta

- ROGÉRIO PAGNAN DANILO VERPA DANIEL MARIANI

Dos 27 mil endereços do Rio, mais de 5.000 não recebem encomendas e moradores têm que buscar produtos DE SÃO PAULO

A explosão da criminalid­ade nos últimos anos levou os Correios a suspender a entrega de produtos em quase metade do Rio de Janeiro. Dos 27.616 endereços da cidade, há algum tipo de restrição em 12.037 deles, o que equivale a 43,6% do total.

Em mais da metade deles (6.469), a entrega só ocorre com o uso de aparato especial de segurança, como escolta armada, o que obrigatori­amente provoca a ampliação dos prazos para recebiment­o de produtos. No restante dos casos (5.568), porém, a distribuiç­ão não ocorre de forma nenhuma —os clientes precisam buscar a encomenda em uma unidade dos Correios.

Esses dados fazem parte de levantamen­to feito pela Folha em dados que integram a base do sistema de informação dos Correios. Tabulação semelhante feita pela reportagem no final do ano passado revelou problemas de entrega na cidade de São Paulo em 29% dos CEPs da cidade.

Os dados do Rio de Janeiro, que teve intervençã­o federal na segurança pública decretada na última sexta-feira (16) pelo presidente Michel Temer, mostram que há algum tipo de restrição em quase todas as regiões.

Na zona norte, por exemplo, há uma série de distritos com veto total de entregas em 100% dos endereços. Nesta lista estão bairros como Acari, Anchieta, Colégio e Costa Barros, a cerca de 30 km do centro da cidade.

A maior quantidade de CEPs sem restrição de entrega está na zona oeste e na zona sul, como Botafogo, Ipanema, Copacabana, mas até essas regiões na área nobre estão cravejadas de pontos sem acesso dos carteiros, em comunidade­s controlada­s pelo crime em meio a bairros mais ricos.

Em Costa Barros, na zona norte, mora a aposentada Dalva Deia Ferreira Silva, 58, que precisa pegar dois ônibus e enfrentar um trajeto de quase uma hora para buscar encomendas na unidade de distribuiç­ão dos Correios mais próxima da casa dela, em Ricardo de Albuquerqu­e, bair- ro que também sofre com a restrição total de entrega.

Os carteiros não entregam produtos nem na própria rua da unidade desse bairro.

“Eu saí de casa às sete horas da manhã e cheguei só agora. É contramão para mim”, disse ela à Folha ,por volta das 9h20, no último sábado (17). “A situação nunca foi boa, mas agora está ‘braba’ demais, está feia mesmo. Tem bandido demais”, disse ela.

Morador de Deodoro, do outro lado da avenida Brasil, a principal via do Rio, o analista de sistema Alex Camargo Lima, 38, também passou nesse mesmo centro de distribuiç­ão dos Correios na manhã de sábado.

Em seu endereço, conta ele, os Correios só fazem pequenas entregas. “Só entregam envelopes. Se for uma caixinha, independen­te do valor do produto, eles não levam, porque é área de risco”, disse ele que, devido a um acidente recente, foi à agência de muletas e de táxi. “Além do frete, que não é grátis, eu tenho que pagar R$ 20 de táxi para vir, e outros R$ 20 para voltar”, disse.

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Danilo Verpa/Folhapress Alex Lima e sua mulher, Daniela Lima, moram em Deodoro e têm que buscar encomendas em unidade dos Correios

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