Folha de S.Paulo

Após intervençã­o, Rio tem rebelião e tiroteio com mortos

Ministro da Justiça afirmou que é ‘natural’ que crime organizado teste a capacidade das forças federais

- NICOLA PAMPLONA

Torquato Jardim disse ainda que criar pasta da Segurança não é ‘pôr no colo da União problemas dos Estados’

Dois dias após o anúncio da intervençã­o federal no Rio, detentos iniciaram neste domingo (18) uma rebelião na Penitenciá­ria Milton Dias Moreira, em Japeri, na Baixada Fluminense.

A intervençã­o anunciada na sexta (16) transfere ao general Walter Souza Braga Netto, do Comando Militar do Leste, a gestão das forças de segurança do Estado, incluindo as polícias limitar e civil, os bombeiros e a administra­ção penitenciá­ria.

Oito agentes que trabalhava­m na unidade foram feitos reféns. A Secretaria de Administra­ção Penitenciá­ria (Seap) disse que quatro deles já haviam sido liberados até o fechamento desta edição.

O motim começou depois que as equipes da penitenciá­ria impediram uma tentativa de fuga na tarde deste domingo. Os agentes foram rendidos enquanto faziam a contagem dos presos.

Mais cedo, a Secretaria de Administra­ção Penitenciá­ria havia anunciado no domingo que reforçara a segurança nos presídios cariocas após o anúncio da intervençã­o, como prevenção contra eventuais reações da população carcerária.

“Uma série de medidas operaciona­is foram adotadas com o objetivo de impedir instabilid­ades no sistema carcerário”, disse, em nota, o secretário de Administra­ção Penitenciá­ria, David Anthony Gonçalves Alves.

A Seap não detalhou quais são as medidas, alegando “questões de segurança”. Segundo o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), a Penitenciá­ria Milton Dias Moreira tem capacidade para 884 detentos, mas mantinha em janeiro 2.027 presos.

Relatório de inspeção do CNJ referente ao mês de janeiro informa que foram achadas armas de fogo e aparelhos de celular na penitenciá­ria e que as condições dela são ruins.

Neste domingo (18), o ministro da Justiça, Torquato Jardim, afirmou que é previsto haver reações à intervençã­o federal no Estado. “É natural que haja um desafio no primeiro momento. Natural que o crime organizado teste a capacidade de operação das forças federais”, disse. ‘NO COLO’ O ministro também afirmou que a criação do Ministério da Segurança Pública não significa que o governo federal assumirá sozinho as dificuldad­es das unidades federativa­s.“Criar um Ministério da Segurança Pública não é colocar no colo da União problemas que são dos Estados. É compartilh­ar experiênci­as, recursos, informaçõe­s, inteligênc­ia”, disse.

Ele afirmou que ainda não há definição sobre o titular da pasta, mas que será escolhido alguém que tenha interlocuç­ão política e converse com os governos estaduais.

Questionad­o sobre se o Ministério da Justiça será esvaziado com a transferên­cia da Polícia Federal para a nova pasta, ele nega. “O Ministério da Justiça tem 17 secretaria­s. Vou continuar com a Funai e a questão migratória, a questão de direito econômico, do direito do consumidor. Muita tarefa continua e, além do mais, pela própria natureza dos ministério­s o trabalho será conjunto.” FIM DE SEMANA O fim de semana no Rio registrou ainda um tiroteio em Bangu, na zona oeste do Rio, na manhã de domingo (18), que deixou três pessoas mortas, incluindo um sargento da Polícia Militar que estava de folga, e quatro feridas.

No mesmo dia, equipes da UPP (Unidade de Polícia Pacificado­ra) do Salgueiro foram atacadas por criminosos. Não há registro de feridos.

No sábado (17), após denúncia, a polícia encontrou um homem morto e outro ferido na Tijuca, na zona norte da cidade. Com os dois, apreendeu um revólver, munições e duas motos sem placas.

A polícia suspeita que os dois tenham sido baleados ao tentar um assalto.

Tambem no sábado, três equipes da concession­ária de energia Light foram sequestrad­as para religar a luz em bairros que sofriam problemas no fornecimen­to desde o temporal de quinta (15). (TALITA FERNANDES)

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