Iniciativas acompanham idosos em busca de pistas sobre vida longeva e saudável
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Várias iniciativas estão mapeando o DNA de pessoas mais velhas mundo afora, com um olhar especial para os que chegaram à idade avançada com relativa saúde.
No Brasil, pesquisadores da USP coordenados por Mayana Zatz e Michel Naslavsky estão estudando o genoma de 1.330 idosos de São Paulo, dos quais 130 têm 80 anos ou mais e boa saúde, incluindo aí quatro centenárias.
As características genéticas naturalmente miscigenadas da população brasileira, bem como o ambiente não muito amigável da metrópole paulista, podem ser trunfos da análise da equipe da USP em relação a análises similares feitas fora do país.
Naslavsky conta que a maioria dos estudos realizados até hoje costumam levar em conta grupos bastante homogêneos do ponto de vista genético, e alguns até relativamente isolados, como os velhinhos de Okinawa, no Japão. Mas os pesquisadores têm verificado que o efeito combinado das variantes de um gene ou vários genes podem ser importantes no que diz respeito à susceptibilidade de desenvolver determinadas doenças.
Estudar isso é particularmente promissor em grupos miscigenados: às vezes, digamos, o efeito negativo de uma variante genética de origem europeia pode ser neutralizado por outra vindo de populações africanas.
Além disso, é claro, há os aspectos ambientais. “Quem chega aos 80 ou mais anos de idade saudável em São Paulo, com poluição, estresse e tudo o mais, talvez tenha algo de interessante”, brinca Zatz.
Para tentar entender o peso de cada fator nos processos de envelhecimento e no risco de morte, a equipe conta com o acompanhamento periódico dos idosos e com questionários sobre seu estado de saúde, um trabalho coordenado por Yeda Duarte, da Faculdade de Saúde Pública da USP.
A correlação entre certos hábitos e a diversidade genética também pode trazer boas pistas. Outro braço do trabalho, envolvendo análises do estado do cérebro dos idosos, é coordenado por Edson Amaro, do hospital Albert Einstein.
Naslavsky explica que é possível dividir os longevos saudáveis em alguns grupos. Certos indivíduos vêm de famílias que são naturalmente longevas por motivos claramente genéticos. Outros chegam a essa condição invejável por uma conjunção de fatores ambientais e genéticos.
Desse segundo grupo, alguns não têm mutações genéticas ligadas a doenças graves, enquanto outros podem até desenvolver câncer. “Mas são resilientes —e esse grupo é que pode ser o mais interessante pensando na população de modo geral”, diz ele.
Seja como for, o mais provável é que a conjunção do papel modesto de muitos genes, além do ambiente, é que esteja por trás da vida longa e saudável. Soluções simples não devem estar à vista. (RJL)