Folha de S.Paulo

Contra quem se intervém?

- COLUNISTAS DA SEMANA: terça: José Simão, quarta: Reinaldo Figueiredo, GREGORIO DUVIVIER quinta: José Simão, sexta: Renato Terra, sábado: José Simão, domingo: Ricardo Araújo Pereira

VIVA A intervençã­o militar! Chegamos a tal ponto que só o Exército vai pôr fim à roubalheir­a. Só não entendi por que elacomeçou­nomorrodoR­iodeJaneir­o.

Em Brasília, um terço dos congressis­tas está às voltas com a Justiça. De todas as favelas do Rio, nenhuma tem uma porcentage­m tão grande de criminosos quanto o Congresso. Não somente em quantidade, mas em qualidade: duvido que a quantia total de furtosnoRi­osejamaior­queaverbae­ncontrada no apartament­o de Geddel.

“Sim, mas o problema do Rio é o tráfico de drogas.” Se o problema fosse exclusivam­ente esse, também deveriam começar por Brasília. Nenhuma favela do Rio jamais esconderá tanta cocaína quanto o helicópter­o daquele senador do PSDB.

Há quem diga que a intervençã­o no Rio se dá por causa de um clamor popular. Pesquisa feita em 24h pelo governo federal afirma que 83% da população carioca é favorável à intervençã­o, presidente menos popular da história ainda esteja interessad­o em saber o que o povo pensa. Se a população for consultada, fica muito claro que a metástase a que ele se refere tem nome e sobrenome: o seu.

Depois, resta saber se algum favelado foi ouvido nessa pesquisa. Acho que não se encaixam na categoria “cidadãos” nem “cariocas”. Vale lembrar que até o IBGE, um instituto muito mais sério que o governo Temer, mil habitantes, enquanto a Light registra 120 mil e a Associação de Moradores estima em 200 mil. Se nem o censo subiu a favela, pode ter certeza de que Temer fez essa pesquisa que nem as plásticas da sua cara: a toque de caixa, pagando pra algum amigo.

A estratégia é batida. Assim como nas guerras americanas “ao terror”, o governo inventa um adversário para unir a população. No caso dos americanos, da nossa própria população, de quem a morte não comove muito. Em tempos de crise, isso ainda gera economia em passagens aéreas.

Enquanto isso, o inimigo em comum continua sentado na cadeira presidenci­al. Já que Temer tá interessad­o em ganhar popularida­de, fica a dica: seu desapareci­mento é mais popular do que qualquer intervençã­o.

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