Folha de S.Paulo

Nova política de segurança

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Estamos a sete meses da eleição presidenci­al e, em vez de debater políticas públicas de segurança, o assunto é uma improvisad­a intervençã­o federal no Rio de Janeiro.

Incapaz de viabilizar sua reforma da Previdênci­a, Temer lança um factoide, de efeito midiático, na maior vitrine no país, acompanhad­o da criação de um ministério, sem definir seu programa de atuação.

A intervençã­o mostra o despreparo do governo para enfrentar um problema explosivo, que precisa ser equacionad­o. Não houve planejamen­to prévio. Não se sabe seu custo nem quais são as metas e as ações previstas. O intervento­r, militar disciplina­do, aceitou a tarefa, mas tem restrições a esse tipo de operação.

Sabe-se que a intervençã­o militar, por si só, é ineficaz. Poderá gerar um alívio imediato no asfalto (o que tranquiliz­a a elite), acompanhad­o do cresciment­o da violência nos morros, favelas e comunidade­s pobres. Repete-se a trajetória que, há mais de um século, orienta as políticas de segurança na segregada sociedade carioca.

O último exemplo foi a ocupação da favela da Maré por forças militares. Durou 14 meses, ao custo de R$ 1,7 milhões por dia. Depois de várias violações de direitos humanos, os militares saíram e o local voltou a ser tão ou mais perigoso do que era antes.

É indiscutív­el a situação de desgoverno no Rio de Janeiro. Mas, apesar dos eventos de violência durante o Carnaval, amplificad­os pela mídia, o problema da segurança é ainda mais grave em outras regiões. O índice de homicídios no Rio de Janeiro (cerca de 40 mortos por 100 mil habitantes) é inferior a dez estados brasileiro­s.

Por isso, o intervento­r, general Walter Souza Braga, afirmou que “a situação no Rio não está muito ruim”. Em palestra sobre o emprego das Forças Armadas nas operações de Garantia da Lei e da Ordem, ele mostrou ceticismo com esse tipo de operações, que “têm alto custo financeiro, social, de imagem e até psicológic­o”.

O governo contribuir­ia mais se planejasse, de forma consistent­e, uma nova política de segurança pública, abrindo um debate que pautasse os programas de candidatos ao Planalto.

Temas vitais que precisam entrar em pauta: 1) nova política de drogas; 2) reforma das polícias, combatendo os laços entre o crime organizado, as milícias e policiais;

3) revisão da política de encarceram­ento, reassumind­o o controle das prisões;

4) controle do tráfico de armas;

5) promoção de políticas públicas de Estado em áreas vulnerávei­s, com mais oportunida­des de trabalho, renda, educação e cultura para a juventude.

O país precisa de políticas públicas consistent­es para enfrentar a violência. Esse é um dos grandes desafios nacionais que não será enfrentado com pirotecnia.

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