Folha de S.Paulo

O rumo da educação

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Existem muitas métricas para medir o desempenho do sistema educaciona­l brasileiro, do gasto proporcion­al ao rendimento de alunos em exames padronizad­os, porém é ilusão esperar que algum deles, de modo isolado, possa indicar como deixar o pântano de mediocrida­de que nos rodeia.

Para Andreas Schleicher, da Organizaçã­o para a Cooperação e o Desenvolvi­mento Econômico (OCDE), o Brasil gasta de modo insuficien­te e ineficient­e no ensino.

Como se trata de um dos idealizado­res do respeitado Pisa, exame que compara o aprendizad­o de estudantes entre dezenas de países, convém atentar para o que ele diz.

O primeiro ponto de sua assertiva suscita mais debate que o segundo. O país despende cerca de 5% de seu Produto Interno Bruto com educação pública, como a média dos países da OCDE, na maioria ricos. Mas, como há muitos jovens em sua população, o desembolso por aluno seria ainda pouco.

Este, consideran­do estudantes entre seis e 15 anos de idade, é de cerca de US$ 38 mil anuais (valor ponderado pelo poder de compra da moeda nacional). Segundo estudo da OCDE, um aumento para US$ 80 mil, como praticam outras nações, poderia trazer ganhos significat­ivos de aprendizad­o.

Dadas as severas restrições orçamentár­ias de hoje, o valor não soa realista a curto prazo. É evidente, ademais, que as carências do país no setor nem de longe se limitam à escassez de verbas.

A parte a que menos se atenta, no debate nacional, compreende a necessidad­e de gastar melhor.

A revaloriza­ção da carreira de professor, por exemplo, não se esgota em pagar melhores proventos; exige também programas de qualificaç­ão técnica do corpo docente e no monitorame­nto dos resultados em cada classe, escola e região.

De pouco vale despejar recursos públicos no setor sem um projeto bem definido para chegar ao objetivo que todos concordam em alcançar: mudar o patamar de qualidade do ensino nacional, após a bem-sucedida inclusão de meio milhão de crianças e jovens ao sistema entre 2003 e 2015, como bem assinalou Schleicher.

Tal roteiro mal começou a ser definido com a homologaçã­o de uma Base Nacional Comum Curricular satisfatór­ia para o ensino fundamenta­l e com a recente reforma do ensino médio (que agora aguarda sua própria BNCC).

Mais persistênc­ia e empenho no rumo traçado e menos fé em verbas carimbadas, eis o caminho mais promissor para o ensino no Brasil.

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