O espetáculo
RIO DE JANEIRO - Os ditadores de San Marcos, a republiqueta da América Central retratada em “Bananas” (1971), de Woody Allen, e os conspiradores de Tanga, a ilha caribenha no filme homônimo de Henfil lançado em 1987, adorariam a modernidade brasileira. Até então, não se tinha notícia de uma intervenção militar cujo anúncio tivesse sido preparado, palavra a palavra, gesto a gesto, por um marqueteiro de plantão.
Teatralmente, as frases saíram da boca de Michel Temer como se decoradas minutos antes, nas coxias do Palácio do Planalto, ou como se sopradas por um sofisticado aparelho de ponto escondido não se sabe onde. Há quem suspeite de um bandaid com a máscara de Darth Vader, o qual tem sido usado na unha do presidente em suas aparições públicas.
O discurso impressionou pelas metáforas. Segundo Temer, o crime organizado no Rio de Janeiro é “uma metástase que se espalha pelo país e ameaça a tranquilidade do nosso povo”. O clímax da peça de publicidade lembrou o lema positivista da bandeira nacional que virou slogan de governo: “Já resgatamos o progresso e retiramos o país da pior recessão de nossa história. É hora de restabelecer a ordem”.
Apoiado na criação do Ministério Extraordinário da Segurança Pública (que por pouco não foi nomeado também como Fantástico, Incrível, Maravilhoso), o espetáculo vai estrear nos próximos dias numa praia, esquina ou favela carioca. O mais provável é que, no primeiro momento, faça boa bilheteria nos índices de aprovação política do presidente. Afinal, a frase do empresário circense americano P. T. Barnum é eterna: “Nasce um otário por minuto”.
Em tempo: destaque para a cenografia montada em segredo pelo ministro Moreira Franco. E para a atuação dos dois atores aos quais couberam os papéis de vilão na trama: o inoperante governador Pezão e o viajante prefeito Crivella. NABIL BONDUKI