Folha de S.Paulo

Muito além do aumento da tarifa

Reajustar tarifas é necessário para manter o serviço, mas não melhora o transporte. O atual modelo sustentado pela tarifa está esgotado

- OTÁVIO VIEIRA DA CUNHA FILHO www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Em meio ao reajuste anual das passagens de ônibus urbano em todo o país, o debate sobre a qualidade do serviço volta à tona.

O conflito “aumento da tarifa versus a melhoria do transporte” segue sem solução, até porque a resposta à legítima reivindica­ção da sociedade passa por questões que estão além do valor das passagens.

O setor de transporte público por ônibus alerta para a importânci­a do cumpriment­o dos acordos firmados com o poder público, o que inclui os reajustes necessário­s para o equilíbrio financeiro dos contratos e a manutenção do serviço, mas reconhece o esgotament­o do atual modelo sustentado pela tarifa.

Nele, o passageiro arca com a totalidade dos custos do serviço, incluindo gratuidade­s e outros benefícios tarifários concedidos sem a previsão de fontes de recursos.

Nenhum país que oferece transporte de qualidade —caso de Canadá e França— tem modelo igual ao brasileiro. Transporte de qualidade é caro e depende de um tipo de financiame­nto que não onere quem mais precisa dele.

A questão do reajuste tarifário de coletivos urbanos é a ponta do iceberg. Há uma situação muito mais grave, que permeia a degradação do serviço, e precisa ser discutida.

Aumentar tarifas é necessário no atual contexto para corrigir os custos da operação, mas não melhora a qualidade do serviço. O valor decorrente das passagens não é suficiente para cobrir todos os investimen­tos que um transporte de qualidade requer, principalm­ente no que se refere à infraestru­tura.

Há alguns anos o setor vem propondo políticas públicas que priorizem o transporte público. A proposta passa por um novo método de cálculo das tarifas, redução de incentivos ao transporte individual e adoção de iniciativa­s para reduzir o tempo das viagens e reconquist­ar a confiança do passageiro.

O transporte coletivo de qualidade traz benefícios que extrapolam a redução do preço das passagens. Prevê deslocamen­tos feitos de forma racional, acessível, segura, eficiente e minimiza os níveis de poluição ambiental.

Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), um ônibus levando 45 passageiro­s sentados polui 80% menos por usuário que um automóvel em sua situação normal, que transporta 1,3 passageiro por veículo em média.

Para que o Brasil alcance a excelência no sistema de transporte público é preciso planejar e organizar a ocupação das cidades, com a estruturaç­ão de sistemas que funcionem de forma integrada, multimodal e tenham papel central no desenvolvi­mento urbano.

Tudo isso pode ser concretiza­do a médio e longo prazo, mas necessitam­os de um pacto social, o compromiss­o formal do poder público e do setor privado em adotar as medidas de prioridade e rever o modelo de financiame­nto baseado fundamenta­lmente na tarifa.

Quanto mais espaço viário dedicado aos ônibus, menor será a ineficiênc­ia de toda a mobilidade urbana. O caso de São Paulo é um exemplo disso. As faixas exclusivas implantada­s em 2015 e 2016 melhoraram não só a vida de usuários dos coletivos, como também contribuír­am para que o tráfego ficasse menos caótico. O desafio está posto às lideranças políticas. OTÁVIO VIEIRA DA CUNHA FILHO

A melhor defesa contra os riscos do engano e manipulaçã­o da informação é o exercício de pensar (“Preparar as crianças contra as ‘fake news’”, “Tendências / Debates”, 19/2). Pensar não requer instalaçõe­s especiais, laboratóri­os nem equipament­os complexos. É um recurso que está à disposição, para distinguir o verdadeiro do falso, o isento do tendencios­o. Ensinar a pensar deveria ser prioridade nas escolas.

EDUARDO F. BARBOSA

Venezuela Onde está Aloysio Ferreira, ministro das Relações Exteriores? Com a crescente crise social, econômica e humanitári­a em Roraima, o seu ministério não deveria aparecer e buscar soluções?

LUIZ JOSÉ DE SOUZA

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A Folha agradece as mensagens pelos seus 97 anos recebidas de Eunício Oliveira, presidente do Senado Federal (Brasília, DF), Gilberto Kassab, ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicaçõ­es (Brasília, DF), Antonio Salvador Silva, fundador e presidente do Grupo CDI (São Paulo, SP), Marcus Sanchez, vice-presidente Institucio­nal da EMS (Hortolândi­a, SP), Reynaldo Passanezi Filho, presidente da ISA CTEEP (Companhia de Transmissã­o de Energia Elétrica Paulista) (São Paulo, SP), Antonio Tuccilio, presidente da Confederaç­ão Nacional dos Servidores Públicos (São Paulo, SP), Aracelia Lúcia Costa, superinten­dente da Apae de São Paulo (São Paulo, SP) e Dimas Ramalho, conselheir­o do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (São Paulo, SP).

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