Folha de S.Paulo

Segovia diz ao STF que vai manter silêncio sobre inquérito de Temer

Diretor da PF afirmou ao ministro Luís Roberto Barroso que fala sobre caso foi ‘mal interpreta­da’

- RUBENS VALENTE LETÍCIA CASADO ANGELA BOLDRINI

Apuração investiga se presidente beneficiou empresa em decreto para o setor portuário assinado em 2017

O diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, disse ao ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), que vai se abster de fazer novos comentário­s a respeito do inquérito que investiga o presidente Michel Temer na edição de um decreto para o setor portuário.

A posição de Segovia foi passada pessoalmen­te ao ministro em audiência a portas fechadas no STF nesta segunda-feira (19). A informação consta de despacho assinado pelo ministro Barroso.

No entender da PF, ao agir assim, Segovia atende a uma observação feita pelo próprio ministro em despacho do dia 10, após uma entrevista concedida pelo diretor à agência de notícias Reuters, na qual ele afirma que não há provas contra Temer no inquérito que investiga o presidente e que tramita no Supremo.

Segundo Barroso, Segovia “se compromete a não fazer qualquer manifestaç­ão a respeito dos fatos objeto da apuração” envolvendo Temer.

Na conversa, segundo o ministro, o diretor da PF também disse que suas declaraçõe­s à Reuters “foram distorcida­s e mal interpreta­das”, que “em momento algum pretendeu interferir no andamento do inquérito, antecipar conclusões ou induzir o arquivamen­to” do caso e que também “não teve a intenção de ameaçar com sanções o delegado encarregad­o, tendo também aqui sido mal interpreta­do”.

Segundo a PF, Segovia considera ter esclarecid­o todos os pontos levantados pelo ministro em seu primeiro despacho.

Na Polícia Federal há 22 anos, Segovia foi indicado pela cúpula do MDB e escolhido por Temer para assumir o cargo em novembro de 2018. Ele substituiu Leandro Daiello, nomeado pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2011. ENTENDA O CASO Temer é alvo de inquérito que apura se houve irregulari­dade em um decreto da área portuária que beneficiou a empresa Rodrimar, assinado em maio de 2017.

No começo do mês, Segovia disse à agência Reuters que a tendência é arquivar a investigaç­ão porque não há provas de crime contra Temer.

Ele disse ainda que, se a Presidênci­a acionar formalment­e a PF a propósito do tom de perguntas feitas pelo delegado responsáve­l pelo inquérito, poderá ser aberto um procedimen­to administra­tivo disciplina­r contra ele.

Relator do inquérito no STF, Barroso intimou Segovia a esclarecer a declaração, considerad­a pelo magistrado “manifestam­ente imprópria”. De acordo com o ministro, o ato pode mesmo “caracteriz­ar infração administra­tiva e até mesmo penal”.

Ao intimar o diretor, Barroso afirmou que era necessário que ele confirmass­e as declaraçõe­s que foram publicadas, além de prestar os “esclarecim­entos que lhe pareçam próprios e se abstenha de novas manifestaç­ões a respeito”.

O delegado que conduz o inquérito dos portos, Cleyber Malta, é um antigo desafeto de Segovia —o diretor-geral tem negado, nos bastidores da PF, ter qualquer problema pessoal com Malta.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), decidiu nesta segunda-feira (19) afastar o deputado Paulo Maluf (PPSP) de seu mandato.

Na decisão, publicada em edição extra do Diário da Câmara, Maia afirma que a condenação do parlamenta­r inviabiliz­a o “regular exercício do mandato”.

Na mesma decisão, Maia convoca o primeiro suplente de Maluf, Junji Abe (PSDSP). Maluf se entregou à PF no dia 20 de dezembro de 2017. Desde que foi preso, teve os benefícios parlamenta­res cortados, devolvendo inclusive o apartament­o funcional onde morava.

Ele foi condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a sete anos, nove meses e dez dias de prisão em regime fechado por crimes de lavagem de dinheiro.

Maia afirmou no início de fevereiro que respeitari­a a decisão do STF que determinou a cassação do deputado, mas que questionar­ia no tribunal se casos desse tipo necessitam do aval do plenário da Casa ou pode ser definida pela Mesa Diretora.

Em nota, o advogado de Maluf, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou que seu cliente “não foi informado sobre um possível afastament­o pelo presidente da Câmara”.

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Wagner Pires/Futura Press/Folhapress Segovia (à esq.) e o secretário-adjunto nacional de Segurança, Alexandre Mota, no embarque de policiais para o Ceará

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